Prosa Poética

Escuridão intimidante

Nesta escuridão intimidante cada breu jaz acabrunhado e excitante
Pernoita no algeroz dos mais infinitos e apaziguantes ecos pujantes
Envolve-se num ritual de palavras ardendo no crematório dos desejos asfixiantes
 
Nesta escuridão intimidante as sombras deambulam pelo parapeito das tristezas urgentes

Onde mora o tempo?

O tempo mora algemado a sedentos segundos inadiáveis
Entranha-se no futuro devagarinho…assim extraditável
Dura o intervalo de uma ininterrupta solidão tão inabalável
 
O tempo reside nas ruas e avenidas deste mundo instável
Confunde-se e transfunde-se no meio de um silêncio indomável

Vampiras órfãs pelo destino

Irmã da eternidade catastrófica, homicidas os irmãos de vosso sangue. Usas a malévola dissimulação para sugar as diretrizes da ordem moral, como um draconiano soldado em eras sombrias. Impressiono-me com tua trama de arrastar os homens ao centro da luxúria; agarras a indolência como se olho de tornado ventasse. Feito quadro expressionista, bebes de todo viço verrinoso, e vomitas na tela a verdade.

Para além do silêncio...

Para além do silêncio…resta um hora raquítica e solitária
O esbanjar de uma palavra mirrada, enferma e tão precária
O intimo apascentar de uma caricia carente, voraz e necessária
 
Para além do silêncio…resta uma devoradora escuridão mendigada
Resta medir cada centímetro deste silêncio divagante e emancipado

Luz na escuridão

Uma luz nesta escuridão flutua imarcescível e glorificada
Imprevisível a solidão esconde-me incompreendida e esfarrapada
Em rodapé fica uma palavra carente, amblíope e homogeneizada
 
Qualquer luz na escuridão contorce-se no meio de breus alucinados
Qualquer lamento sussurra entre silêncios quânticos e tresloucados

A Despedida

 
‘’Meus olhos se fecharão como todos os olhos.

Cruzem-me as mãos.
Quero posar para a morte.
Mas não vos direi “mais luz”
Nem haverá êxtases, eu vos juro.
A paisagem infiel, lenta, confusa,
Será a cinza sem cor, sem cor.
Apenas a cinza sem cor.
Mas antes que venha o silêncio,
Trazei-me o intérprete.
Porque há o nada e o sempre.
Mas trazei-me o intérprete
Antes que venha o silêncio,
E antes que eu vá, como irei,
Sem vos contar o fim.’’ (Antônio P. de Medeiros)

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