Saudade

As laranjeiras e o meu pai (2)

A vida é um somatório de momentos, de instantes, não existe nenhum conversor de escalas que os quantifique, podem durar uma eternidade ou simplesmente nada ultrapassando o tempo sem deixar rasto.

Outros permanecem para sempre! O sorriso do meu pai, o olhar terno do meu filho, a minha filha nos meus braços, as palavras mágicas da minha avó, a primeira vez que vi uma estrela-do-mar azul, o barulho do ribeiro da azenha e o cantar do rouxinol da eira nas noites quentes de verão.

A Borboleta

Naquele dia de sol intenso

Entre pessoas e crianças em festa

Uma borboleta espalhou sua beleza

Pousou no meu dedo e prendeu-me o olhar

 

Contou-me segredos, sussurrou com ardor

Cativou-me e depois voou para longe

Será que a posso reencontrar?

A distância era mais longa que um salto

 

Agora compreendo o termo platonicus

Querer tocar sem poder sentir

Ter medo de fazer ruir algo que não construi

Mas ainda assim desejar de forma ardente

 

Ter esta borboleta novamente em mim

Jau -1

Jau - 1

É uma história que tem como protagonista o cão que marcou a minha infância, o Jau, um pastor alemão que o meu pai trouxe da Guiné Bissau algum tempo antes do fim da guerra.

Era um cachorrinho, a minha mãe colocou-o dentro de uma sacola, deu-lhe um comprimido para dormir e escondeu-o com algumas roupas. Nesse dia no Aeroporto da Portela, a minha avó gritou - “Olha o Zeca de bigode!”.

Poema de outrora

Poema de outrora

 

Quando me deito em prado verde

Sinto o olor das flores silvestres

Perfumarem meu rosto com seu afago

Adormeço profundamente em relva húmida

Ao som do cantar das cigarras

Desce sobre mim o céu azul

Tua voz serena me desperta

Quero apenas ler, ler o que não vejo

Encontrar o poder de voltar ao mundo

Que perdi, sem o viver

Procuro lembranças que não existem

Outrora não era o que parecia…

O sol é belo, dizem os pássaros

Desde o aconchego dos seus ninhos

Repouso da saudade

Repouso da saudade

 

Memorias arrancadas

No peito guardadas

Esperanças perdidas

De abraços teus

Olhos molhados

Rasgando rugas

Pensamento meu

Em versos se escondeu

Dor renitente rasga a alma

Sedenta de versos teus

Há poemas que beijam

Bocas silvestres

De luz intermitente

Na áurea terrestre

Refugio-me nos teus olhos

O teu olhar

O TEU OLHAR

 

Nos teus olhos

Que hoje já não me olham mais

Consigo ver o mundo que deixaste

A paz, a luz, a cor da vida

Consigo visualizar todo o amor

Que deixaste em mim

Pelos teus olhos

Vejo o mar que vais velejando

No céu do meu pensamento

E carrego o encantamento

Que a vida me ofereceu pela tua mão

Teu olhar tem a pulsação do amor

Teu olhar é orvalhado de ternura

Teu olhar é um poema de saudade

Teu olhar é um riacho sereno

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