Soneto

O moinho

Corpo redondo, olhos pequeninos,
no cume da serra de braço a girar
ao sabor do vento, cantando hinos,
sem preguiça... sempre a trabalhar.

Lado a lado com o seu amigo,
elabora a farinha e canta crente,
ser capaz de fazer de um grão de trigo
o fim da fome que mata tanta gente.

Assim passa a noite o redondo moinho,
dando guarida ao moleiro, que sozinho,
luta na noite ora a trabalhar, ora a vigiar

Pintura estragada !

    Pintura estragada !

 

Minha mente pintou um quadro lindo !

Pleno de flores e meninos rindo

E searas loiras bailando ao vento !

Num canto ermo, ouve-se um lamento !...

 

Pintei estrelas vivas, a piscar.

O pó de um cometa , o céu a riscar.

Luar prateado a iluminar !

Numa casa fria...alguém a chrorar !...

 

Minhas pinturas tão bem inspiradas

Onde celebro a beleza de Maio,

Por que surgem nelas cenas magoadas !?

 

Hei-de esboçar e criar com paixão

Vendaval na cidade

        Vendaval na cidade

 

   As nuvens choram copiosamente !

   A chuva alagou e já corre um rio

   Descendo a calçada tão velozmente .

-- Que incomoda o rio se eu sorrio ?!!!

 

   O vento que sopra, parece vivo !

   O trevo verde do jardim em frente

   Baila caótico, em rodopio.  

--Que incomoda o vento se estou contente ?!!!

 

   E vou olhando através da vidraça.

   A chuva abrandou. E não fez desgraça.

   O vento amainou. Foi noutro sentido.

 

Preciosos diamantes

Como bagas amadurecidas pelo tempo
Tocando meus lábios com delicadeza
Serão teus beijos meu puro alimento, com certeza
E em tardes primaveris etéreo passatempo?!

Pelas rotas íngremes do meu coração
Serão teus beijos a mais viva chama
Em noites frias, à meia-luz na tua cama…
Acalentando a minha alma com emoção?!

Como um jardim ao radiar da aurora
Serão teus beijos luzentes de inspiração:
Gotas de orvalho escorrendo em minha língua com satisfação?!

A um amigo

Em meu palácio brilha uma chama
No silêncio da minha janela passa o vento
Que por teu doce nome clama…
Oh, que turbulento!

Em meus aposentos de ternura te invento
Sobre lençóis dourados, na minha cama
Onde a vela da fantasia derrete como num convento
E um Deus belo beija uma Dama!

Pelos trilhos silenciosos do encanto
Tropeço nas pedras rubras de um desejo
Enquanto a Fénix renascendo revejo…

HERÓIS ESQUECIDOS

        HERÓIS ESQUECIDOS

 

Não vos louvo tão bem como queria.

Soldado, refugiado, bombeiro...

Heróis dos tempos e de cada dia,

Dais-vos em cada luta por inteiro.

 

Sois vós, heróis valentes e incógnitos,

De corpo a pedir-vos quietação,

Já doridos, suados e aflitos,

Persistis...com vigor , dedicação !

 

Nos, absortos em nosso comodismo,

Tantas vezes ingratos, insensíveis

Vivemos...e seguimos impassíveis.

 

E eu hoje esqueci meu egoísmo

Se...

Se eu fosse uma borboleta Azul
Poisaria em teus verdes campos
Brilhando como pirilampos...
Voaria rumo ao teu charmoso Sul!

Se eu fosse um selvagem Rio
Correria em tuas margens profundas
Plantando papoilas perfumadas
E em tua chama derreteria todo o meu frio!

Se eu fosse um Cometa no teu Universo
Deitaria minha cauda sobre tuas nuvens de cetim
E contigo viajaria à Lua numa caravela de marfim!

Se eu fosse no teu poema um Verso
E na tua caneta a tinta Azul
Na tua senda seria um caloroso Percurso!

Barco Encalhado

Vês-me, tal como eu sou, velho e usado,

Já não me dás valor nem atenção,

As rugas, as brancas e a lentidão

Afastam-te deste barco encalhado.

 

Isolaste-me da tua sociedade,

Sem eu ser assassino nem ladrão

Enclausuraste-me nesta prisão,

Lixeira de cadáveres adiados.

 

Também eu já tive a tua juventude,

Também esse teu  mundo já foi meu

E eu, por ele, fiz o melhor que pude.

 

Ajuda quem ainda não faleceu,

Lembra-te que eu fui jovem como tu

E que tu serás idoso como eu!

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