Soneto

A vida que passa

Passa a vida num passo ligeiro
Amadurecem os frutos no limoeiro
O tempo é o tempo que se esvaíra
O sonho é o feitiço que em mim paira!

Adormece o dia... acorda a noite
Fadas e Anjos dançam com deleite
Acendem-se as velas ardentes do Amor
Ouvem-se gemidos de clamor

No labirinto do Ser rouba-se o alento
Sopram os ventos da imaginação:
Numa praia deserta Deuses invento...

Das ondas extasiantes nasce uma diva
No oceano espumoso do coração...
Onde a caravela da vida anda à deriva!

Ao Sol escondio

Oh, Sol que te escondes no horizonte
Porque me chamas-te um dia Lua
E hoje me queres como ponte...
Não sabes que a água corre pela rua!?

Oh, Sol que o Universo iluminas
Porque pintas-te o céu de cinzento
Não vês que assim não me animas
Quando os sonhos leva-os o vento!?

Oh, Sol que pela neblina espreitas
Beija profundamente minha pele nua
Quando de meus olhos saem cascatas...

Oh, Sol que em minha alma penetras
Não vês que eu ainda sou Lua
E teu nome se reduz a três letras!

“Água de Vontade”

  

Um encontro, um poema;

Uma luz aberta no horizonte;

Um grito na voz, que solte o dilema!

Um rio; duas margens; uma ponte…

 

Deste lado: A amargura no peito;

Do outro: O sonho mais persistente…

Na ponte: O esforço, de tal jeito

Qual, da vontade, sobre à vertente…

“O Encontro”

 

Escrevo como uma viagem inconsciente;

Cônscio do encontro, na busca distante…

No horizonte, de mim, a mina, a luz, a nascente;

O fundo de um mapa vago, numa tela penetrante…

 

Funduras, a terra tem de sobra;

Profundidades, o céu as tem, também;

Não falta ao Mundo, quem lhes abra a cova,

“Ter ou não ter”

  

Há, no meu peito, um mar em tempestade;

Uma efervescência de vapores no horizonte…

Nos meus olhos, dois Mundos, uma saudade

Um licor precioso, bebido, de mim, como fonte;

 

Na minha garganta, seca-se a dor… Que me deixe,

Gritando em silêncio, a fúria que a voz encrava…

Salvação

Faz do passado
O nunca mais,
O tempo desperdiçado
Não trará felizes finais.
 
Torna o futuro desejado
No presente que desejais,
E o tempo inacabado
Será fonte de coisas reais.
 
A roda só gira
No sentido
Em que a fizeres girar.
 
A vida suspira
Pelo sentimento decidido
Que faças levantar.
 
 
Este poema faz parte do seguinte livro:

Cada Alma Minha Prostrou-se Para Vossa Longa Vida Vê-la

AA
África, entoa o canto das lágrimas do vosso partir,
vós que por muito gladiastes, por cada seu irmão;
se o tempo tanto enciuma-vos por acenar-nos a mão,
então durmam ternamente e deixem-nos vosso sorrir.

BB
Beijar-mo-eis o silêncio do vosso andar co'este sentir,
hiper tristonho, que por vos ver ir, murcha nosso coração;
mas, sabe o vosso destino que deu-vos... pela sua ilusão,
ao outro mundo, embora sem nosso... coração assentir.

Perpétuo é o paraíso de vosso único corpo

Perpétuo é o paraíso de vosso único corpo,
Que por toda vida muito o viemos desejar,
Embora sempre nosso coração tanto alvejar,
A queremos no seu interior que mendiga louco.

Façam mil clones de vós; mas ainda será pouco,
Se mais mil darem-nos para possuir e farejar;
E mais outros mil de vós nosso desejo vir forjar,
Olhos nossos não radiarão; o coração tampouco.

Perpétuo até é o sabor do vosso doce linguajar,
Que contam perpétuos segredos de vossos lábios,
Que dilaceram nossos ouvido com vossa vaga voz.

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