Soneto

Águas

Lembro que, maliciosamente, brinquei com teus pelos

E percorri com a ponta dos meus dedos tão maliciosos

Cada curva de cada pequeno seio teu – dons preciosos

Túrgidas e belas testemunhas da fome dos teus apelos.

 

Comi tua nudez. Amei cada um dos teus belos detalhes

E me adonei gostosamente de todas as tuas lindas vias.

Te vi chovendo. Borrasca de paixão, tu toda escorrias,

E qual rara peça esculpida, me expunhas teus entalhes.

 

E na tua boca sequiosa – desejo – eu me fiz teu alimento

Agonia

Agonia

Faz tão pouco, mas tão pouco tempo que nos separamos

Que ainda sinto nas mãos o cheiro do prazer que te dei

Que ainda tenho na retina todos os detalhes que gravei

Deste teu corpo lindo que vi, desde que nos amamos.

 

Foi ainda há pouco. Tanto que ainda trago na boca o sal

Que bebi de cada gota de suor que perolava em teu rosto

E sinto ainda um certo gosto que não conhecia – o gosto

Do vinho do amor apanhado da mais fina taça de cristal.

 

E tem sido assim o tempo pra mim: às vezes feliz demais

Acontece

Acontece

Olha, vê se me esquece. Tire da sua pele a lembrança

Do meu suor. E tente esquecer cada apaixonado grito

Que amando, me destes. E esqueça seu querer aflito

De me dar prazer bem antes do seu, em nossa dança.

 

Olha, vê se me esquece. Você tem que tirar da retina

A Um Mestre Sala Morto

A um Mestre-Sala Morto

 

A avenida agora está enormemente vazia e silenciosa

Refletores apagados. No chão, apenas alguns confetes

Olham silenciosas almas de pierrots, arlequins,valetes

E a descolorida bandeira que ontem tremulava graciosa.

 

O samba-enredo revelou-se pobre, perdeu a harmonia

De tanto, conseguiu fazer dolentemente calado o surdo

E o reco-reco, o tamborim e a cuíca – um naipe mudo

De há muito que estão sós e nus – perderam a fantasia.

 

AMANTES

Amantes

Ainda se podiam ouvir no ar as músicas natalinas. Lembro

Do vermelho vivo, botas e pom-pons dos bons papais-nóeis

E dos lindos presentes que te dei e recebi, coloridos papéis

Nosso Natal. Lembro muito bem – vinte e sete de dezembro.

 

Outra data linda – foi da obra prima da paixão um rascunho

Imortalizado na rosa, no beijo, no abraço, no fogo da cama

Nossa pele, nosso hálito, nosso prazer, nossa infinda chama

No nosso Dia dos Namorados – apenas só nosso 15 de junho.

 

Sobre mim

Não sou verso de poeta
Nem flor de jasmim
Sou singela violeta
Que de sede morre no jardim.

Não sou dona de mim
Nem de um ramo de rosas
Sou o livro de mágoas sem fim
Escrito nas noites nebulosas.

Não sou do rio a ponte
Nem a água que da nascente brota
Fresca, ingénua e transparente!

Sou o vento eloquente
Que não reconhece derrota
Nas mãos de um idiota!

PUDERA EU SER

Pudera eu ser mar, poderoso e forte

Que nada teme, na sua vastidão imensa!

Pudera eu ser pedra que não ri nem pensa

Pudera eu ser vento, ser o vento norte!

 

Pudera eu ser trovão, com o seu poderio

Ser luz, ser sol, que ilumina a alma!

Uma alta montanha, um imenso rio

Trazer no seu leito, o amor, a calma…

 

Verbos da Vida

Eu olhei. Tu olhaste. Nos olhamos

Eu quis. Tu quiseste. Nos queremos

Eu disse. Tu disseste. Nos dissemos

Eu amei. Tu amaste. Nos amamos.

 

Eu esperei. Tu esperaste. Nos esperamos

Eu menti. Tu mentiste. Nos mentimos

Eu resisti. Tu resististe. Nos resistimos

Eu fechei. Tu fechaste. Nos fechamos.

 

Eu debati. Tu debateste. Nos debatemos

Eu perdi. Tu perdeste. Nos perdemos

Eu cansei. Tu cansaste. Nos cansamos;

 

Eu desisti. Tu desististe. Nos desistimos

Histórias Encantadas têm Final Feliz?!...

Histórias Encantadas têm Final Feliz?!...

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“Era uma vez”, d’ Histórias Encantadas,
Daquelas que embalaram a alva infância –
Que os românticos dão plena importância
Ao fascínio dos contos e das fadas.

Quem alimenta o seu âmago com
Os reluzentes sonhos da alegria,
Consegue dosear o dia a dia
E entender o que a vida tem de bom.

“Era uma vez”, acaba eternizado
Por quem se faz amante, sendo amado,
E escreve a fábula que o peito diz,

Soneto de Casamento

 

Te adonaste de mim por inteiro,

Me entreguei, me entrego a ti sem pudor

Nem receio de ser teu canteiro

Para plantares em mim teu amor.

 

Dar-te-ei os frutos verdadeiros,

Os mais doces e belos em favor

Do amor que te juro, sem receios

De ver negada a alegria e o louvos

 

Da solidão dos dias... e das noites

-Essas sim, perversas companheiras:

Viciosas, ilusórias, traiçoeiras!

 

A isso renuncio pelos açoites

Da maltratante paixão restante

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