Soneto

Memorial de Santa Teresa

 

Miserável e sagrada foi a vida que levei,

Buscando glória pela morte do Rei.

Leda idade fez-me só,

Dias que vivi de fé e pão de ló.

 

Dádiva cruel dada por Deus;

Encaminhar-me aos quinze à Ávila que tardou, mas amei.

Lá, damas e cavalheiros incitavam-me a abdicar o fervor.

Barcos

Meu coração é um porto abandonado
Que os barcos passam, mas não param nunca;
E buscam, juntos, um novo traçado
Que longe esteja da maré adunca.

O teu amor é um barco sem destino
Que não atraca nunca no meu cais;
E passa longe do meu porto pequenino:
Segue perdido e não volta mais.

O meu olhar longínquo, na esperança
Do teu amor que passa lentamente,
E não atraca no meu coração;

É o cais vazio ao teu barco que encerra
No ancoradouro do meu porto de repente
Uma saudade e uma solidão.

Obscura

Se dizias que me amavas

Então dizes por que deixou

No meu coração as maiores cavas

De um amar que nunca me amou!

 

Nunca brinques com o coração d'um apaixonado

Pois este é frágil, preso e inocente

E por mais que da paixão carregue o fardo

Não merece sofrer desse calor latente...

 

E agora, te vejo obscura

Como um cadáver jogado à morte

Como a alegria que a vida me roubou

 

Percebo que o amor não procura

O ser com a melhor sorte

Para adoentá-lo com a praga do amor!

 

Seria um Sonho?

Tudo o que vejo, ouço e sinto

Seria de fato realidade?

Ou seria só a perversidade

D'um audacioso labirinto?

 

Seria tudo isso um fantasioso sonho?

Onde a angústia, meu medo medonho

Estraçalha o palpitar despalpitado

De meu pobre coração angustiado?

         

Então que depressa eu acorde

Para que não mais me recorde

Deste sonho repleto de medo

 

Recuso o sono que o tempo me trouxe

Pois se um sonho a minha vida fosse

Não seria sonho, e sim pesadelo.

 

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