Soneto

POR MUITO ESPINHOSO QUE ELE SEJA

 

Destemido cavaleiro viajante

Que percorres planícies sem ter fim

Num galope solto, e elegante

Neste teu Cavalo de marfim.

 

Cavalgas sem medo, de guerreiro

Buscando o horizonte que perdeste,

Embora já cansado percebeste,

Que esse horizonte está lá, é verdadeiro.

 

Sem medo vais em frente e não desistes

Sabendo o que nessa viagem te espera

Embora longa e tortuosa, essa quimera…

 

Memorial de Santa Teresa

 

Miserável e sagrada foi a vida que levei,

Buscando glória pela morte do Rei.

Leda idade fez-me só,

Dias que vivi de fé e pão de ló.

 

Dádiva cruel dada por Deus;

Encaminhar-me aos quinze à Ávila que tardou, mas amei.

Lá, damas e cavalheiros incitavam-me a abdicar o fervor.

Barcos

Meu coração é um porto abandonado
Que os barcos passam, mas não param nunca;
E buscam, juntos, um novo traçado
Que longe esteja da maré adunca.

O teu amor é um barco sem destino
Que não atraca nunca no meu cais;
E passa longe do meu porto pequenino:
Segue perdido e não volta mais.

O meu olhar longínquo, na esperança
Do teu amor que passa lentamente,
E não atraca no meu coração;

É o cais vazio ao teu barco que encerra
No ancoradouro do meu porto de repente
Uma saudade e uma solidão.

Obscura

Se dizias que me amavas

Então dizes por que deixou

No meu coração as maiores cavas

De um amar que nunca me amou!

 

Nunca brinques com o coração d'um apaixonado

Pois este é frágil, preso e inocente

E por mais que da paixão carregue o fardo

Não merece sofrer desse calor latente...

 

E agora, te vejo obscura

Como um cadáver jogado à morte

Como a alegria que a vida me roubou

 

Percebo que o amor não procura

O ser com a melhor sorte

Para adoentá-lo com a praga do amor!

 

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