Tristeza

Estar vivo

Como sentir que estou vivo

Como ainda perceber que respiro

São coisas que não vêm no livro que lemos

E todos o lemos quando nascemos

 

 

O milagre da vida, fruto de dois diferentes

Amor transformado em seres inteligentes

De um apenas, multiplicar-se por centenas

Moléculas que criam braços, corpos, pernas

 

E nascer, tudo é sinónimo de sofrer

A dor de cair, sem ainda se aperceber

Perder aquele espaço, aquele intervalo

Onde tudo fazia sentido, sem qualquer abalo

 

Coragem

Ainda chove nesta madrugada. 
Lágrimas de anjos que caem suavemente desde... nem sei quando.
Na verdade, eu cruzei a fronteira em silêncio
até ao fim dos meus sonhos...
e agora
resta-me um coração vazio
embora contenha em si ainda três recantos:
o primeiro protege o último amor,
o segundo, contém as cinzas dos meus anseios destruídos,
o terceiro... de tão vazio, limita-se a ser...
só, numa dor pesada e sombria.
Ah, se pudesses chegar agora

Mar e brisa

Procurei em cada onda uma maré
Num farol à costa
Um caminho bem traçado
Um homem do outro lado
que ande bem por mim.

Navegador do meu destino
num compasso miudinho
que abra as pontas do relógio
ao meu sofrer

Despeço-me do céu azul
numa noite de arraial
e assim fugir do mundo
que eu amei.

O vento

O vento

 

Sentado na área de uma velha casa

Observando o tempo

Eu ouço o forte ruído do vento

Pintando o céu de poeira,

Folhas, galhos, sujeira

Furioso batendo nas casas e nos carros

Balançando as arvores espantando os cavalos

O vento impetuoso espalha

tormento, medo, incerteza

O vento existe pra nos trazer

A memoria ao certo o quanto somos

Seres frágeis, e totalmente

Dependentes do incerto

Da natureza e da vontade

De quem a domina, Deus

DESPEDINDO-SE

Alma minha gentil, que te partiste
E n`outro mundo foste estar com Deus,
Escuta, ao menos, meu soturno adeus
Que neste peito em ecoar persiste.

Tu, que teu voo d`anjo levantaste
Tão cedo desta vida, descontente
És-me agora a alegria sempre ausente,
Que em nossas noites d`amor invocaste.

E aqui te desejo em minh`acre vida,
O que não tiveste quando viveste:
Repousa lá no céu eternamente,
Alma minha gentil, minha querida!

Pages