Apenas escrevendo

Na desmedida ânsia desta escrita

Me traduzo sem pudor,

Regurgitando a minha angústia

Abençoando os meus amores

E exorcizando os meus desamores,

Vertendo invisíveis lágrimas

Que perdi na dor de nunca me encontrar.

E eternamente me procuro,

Pintalgando o meu pensamento

De cor infinda de esperança,

Numa folha de papel de serenidade inundada

E que revejo numa bucólica e vibrante árvore,

Delicadamente me aplainando

E com ternura me transparecendo,

Singela oferta

Em ti revejo o meu lado breu,

Asas sentidas e de mim arrancadas

Com golpes desferidos no sentir do meu ser

E tu jamais me encontrarás

Pois o viver na mundana surdez sem horizonte

Abarca a tua alma que inocentemente ignora,

Este embaraçoso sentir jamais vivido,

Por um pedaço desta minha alma

Que ansiosa por desvendar

Este estranho viver que revolve o meu ser

E neste tempo revivido sem limite,

Apaga em mim todo o sentir deste fugaz sonho

Somente poemar

E assim me encontro e desencontro

Suavemente o teu olhar tocando

Que me penetra e confunde,

Aquele olhar que jamais encontrei

No mais profundo do meu ser.

E nele arde em mim o singelo fogo

Que da terra ferozmente brota

Com trevas de esperança anunciado

E exalado num profundo grito de agonia,

E que em mim divinamente aterroriza

Nesta desmedida ânsia de viver,

E me seduz e fingidamente me abraça,

Acalentando com ternura todo o meu ser.

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