Entre Lisboa e Madrid
Autor: DiCello Poeta on Tuesday, 24 January 2017Nele eu viajo
Vou de um lado ao outro
Nele eu viajo
Vou de um lado ao outro
Eu sou a sombra de um passado desconhecido
Eu sou o fantasma de carne e osso
Eu sou a esperança que nunca chega
Minha imagem não sou eu
E esse eu que não vejo
Que paralelo a mim consegue me cruzar
Diz coisas sobre mim que me apavoram
Tento mantê-lo longe
Sem perdê-lo de vista
Pois um dia desses
Esse eu não eu
Com os meus filhos tenho a sensação que não sou capaz de ser humilde. Valorizo o trabalho e a responsabilidade, o respeito e a tolerância... Mas, gosto quando eles ultrapassam barreiras, quando eles me surpreendem fazendo coisas que eu pensava que não estavam ao seu alcance.
Árvores
As árvores vivem livres;
Quanto mais velhas mais belas;
A sua idade são folhas que voaram com o tempo;
Vencem os dias sem fadiga e sofrimento;
Cantam com o vento enquanto abraçam o céu;
Abrigam os pássaros nos ramos e dão paz
Aos que na sua sombra sonham.
Miguel Sousa Santos
(09/10/2015)
Palheirão
Fomos para um lugar isolado onde costumo pescar quando quero estar só, um deserto de mar e dunas; na areia da praia caminhavam gaivotas, pequenas rolas e maçaricos. O mar estava calmo, chamava por nós.
O teu olhar e a imensidão do espaço que me envolvia travavam a minha voz. Ficámos em silêncio, nada havia para dizer, apenas para sentir. Neste local, onde o mar canta e sol vê é impossível falar.
Não quero acordar-te
Olho para ti enquanto dormes, não quero acordar-te, quero ouvir o teu peito, não me atrevo a tocar-te, quero sentir o teu respirar na minha mão.
Vejo a tua pele, gosto da tua cor, tens um tom lindo… Não quero acordar-te.
Olho e penso que estás a sonhar, a caminhar de noite, a navegar, a voar.
Gostava de ser um duende para entrar nos teus sonhos, sentar-me-ia ao teu lado depois de uma chuva de estrelas, no fim de um arco-íris noturno, contar-te-ia que existe um coração com asas que vai voar contigo.
Medina
Um dia fui apanhar enguias com o meu amigo Medina, um jovem de oitenta anos.
Foi no mês de agosto, cheguei a casa dele e sentei-me no banco do borralho enquanto ele acabava de almoçar. A porta da sua casa estava sempre aberta, assim que me viu chegar sorriu e disse - Hoje vamos apanhar das grandes. Comia peixe frito em farinha de milho que acompanhava com broa e vinho.