Ô teu amor

Queria estar num campo...
Olhar para o céu e ver as estrelas
Mesmo sozinho, mas
Pensando em você
O vento a sentir
Olhar as estrelas mas pensando em ti.
Num lugar distante...
E se você quiser, eu
Te levo comigo
Para ser meu abrigo
Me dar teu carinho
Ô teu amor...
Para me abraçar
E o meu amor eu dar
Eu te dar!
Nesse campo junto as estrelas
Para eu te amar.
Te amar!

SENTADO À TUA BEIRA

Sentado à tua beira, agarro tua mão.

Quero segurar o tempo,

Prolongar este instante por todo o sempre.

Gozar este poente,

Deixar que o Sol mergulhe, profundamente,

No oceano dos nossos peitos,

Que a luz adormeça nossos olhos,

Que a cor nos drogue, na miragem do instante.

Quero segurar o tempo,

Impedir que ele nos arraste, bruscamente,

Para um espaço sem fim,

Evitar que ele nos lance na roda do destino.

Quero segurar o tempo,

Viver todo o futuro neste nosso presente,

UTOPIA?

Entro na máquina do tempo.

Viajo 365 dias e que vejo?

Alegria e felicidade;

Um Deus único, apelidado

De muitos nomes,

Mas olhado por todos como fonte de paz,

Fraternidade e amor.

Governantes ao serviço do povo

Distribuem riqueza, velam pela saúde,

Investem na educação.

A justiça social impera,

Há entrega em vez de corrupção.

Uma grinalda de luz e cor,

Envolve toda a Terra.

Todos estão nas ruas,

Trazem uma flor branca nas mãos.

Entoam um hino ao AMOR,

HOMEM FEITO MÁQUINA

O cérebro eletrónico adoeceu.

Há fios retorcidos, resistências queimadas.

Aquela caixa metálica, sempre disponível,

Começa a confundir-se, a errar os cálculos,

A não responder ao programado.

Um ser inútil, afinal.

 

O cérebro eletrónico morreu.

Sobre ele, debruçam-se, com olhar técnico,

Todos os que o utilizaram em vida.

Todos se interrogam e querem saber:

Que doença misteriosa fez parar,

A máquina inesgotável, sempre pronta,

Que se deixava só, num canto da sala

A CIDADE CRESCE

A cidade cresce.

Os homens amesquinham-se entre os carros,

Que não têm por onde andar.

Árvores medrosas exibem nos ramos,

Folhas mortas de poluição.

E o homem, animal da orla da floresta,

Enfurece-se, qual fera cativa do cimento que o cerca,

Na nevrose quotidiana, que não ousa compreender,

Por indecifrável e vazia.

 

A cidade cresce.

As crianças surgem dos buracos das ruas.

Os drogados, vadios, abandonados,

Viram detritos nas portas de tascas e cafés.

O QUE É VIVER?

 

O que é a vida?

É a subida da montanha por sendas misteriosas,

Entre árvores que abrigam e pedras que rolam?

Ou é a descida do caudal do rio,

Cortado por rápidos e correntes,

Que nos atiram contra pedras pontiagudas?

É o almejar atingir o cume iluminado,

Projetado no azul do céu,

Mas logo coberto de nuvens?

Ou é antever a foz e sonhar com o mar alto,

Que tanto nos liberta, como afoga?

É ver e cheirar flores campestres,

Crescendo em vales tranquilizantes?

FALSA APARÊNCIA

Pinta de branco o barro cru da jarra tosca.

Coloca-a numa sala entre sofás e livros raros.

Enfia-lhe flores vistosas, colhidas numa estufa.

Põe-lhe um selo, um carimbo, dá-lhe um rosto…

E terás falsa porcelana.

 

Traça a cinza veios em seu bojo,

Esfrega verniz. Na boca um aro dourado.

Coloca-a sobre um suporte de negro polido.

Dá-lhe lugar vistoso, na sala de visitas.

E terás belo mármore.

 

Deita-lhe água dentro.

Pouco a pouco…

Cai o verniz, abrem-se brechas na pintura.

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