trinados íntimos
Autor: António Tê Santos on Friday, 4 November 2016o recreio é por uma foice mutilado, as máculas renovam os dias com borbotos que crescem longe dos presbitérios, os fervores cintilantes inflamam as náuseas que exprimem o destino.
o recreio é por uma foice mutilado, as máculas renovam os dias com borbotos que crescem longe dos presbitérios, os fervores cintilantes inflamam as náuseas que exprimem o destino.
Queria estar num campo...
Olhar para o céu e ver as estrelas
Mesmo sozinho, mas
Pensando em você
O vento a sentir
Olhar as estrelas mas pensando em ti.
Num lugar distante...
E se você quiser, eu
Te levo comigo
Para ser meu abrigo
Me dar teu carinho
Ô teu amor...
Para me abraçar
E o meu amor eu dar
Eu te dar!
Nesse campo junto as estrelas
Para eu te amar.
Te amar!
De repente não mais me conheci.
Estava na frente do espelho e não me vi.
Quem sou,de onde vim?
Sei lá, como esta chegou aqui.
Sentado à tua beira, agarro tua mão.
Quero segurar o tempo,
Prolongar este instante por todo o sempre.
Gozar este poente,
Deixar que o Sol mergulhe, profundamente,
No oceano dos nossos peitos,
Que a luz adormeça nossos olhos,
Que a cor nos drogue, na miragem do instante.
Quero segurar o tempo,
Impedir que ele nos arraste, bruscamente,
Para um espaço sem fim,
Evitar que ele nos lance na roda do destino.
Quero segurar o tempo,
Viver todo o futuro neste nosso presente,
Entro na máquina do tempo.
Viajo 365 dias e que vejo?
Alegria e felicidade;
Um Deus único, apelidado
De muitos nomes,
Mas olhado por todos como fonte de paz,
Fraternidade e amor.
Governantes ao serviço do povo
Distribuem riqueza, velam pela saúde,
Investem na educação.
A justiça social impera,
Há entrega em vez de corrupção.
Uma grinalda de luz e cor,
Envolve toda a Terra.
Todos estão nas ruas,
Trazem uma flor branca nas mãos.
Entoam um hino ao AMOR,
O cérebro eletrónico adoeceu.
Há fios retorcidos, resistências queimadas.
Aquela caixa metálica, sempre disponível,
Começa a confundir-se, a errar os cálculos,
A não responder ao programado.
Um ser inútil, afinal.
O cérebro eletrónico morreu.
Sobre ele, debruçam-se, com olhar técnico,
Todos os que o utilizaram em vida.
Todos se interrogam e querem saber:
Que doença misteriosa fez parar,
A máquina inesgotável, sempre pronta,
Que se deixava só, num canto da sala
A cidade cresce.
Os homens amesquinham-se entre os carros,
Que não têm por onde andar.
Árvores medrosas exibem nos ramos,
Folhas mortas de poluição.
E o homem, animal da orla da floresta,
Enfurece-se, qual fera cativa do cimento que o cerca,
Na nevrose quotidiana, que não ousa compreender,
Por indecifrável e vazia.
A cidade cresce.
As crianças surgem dos buracos das ruas.
Os drogados, vadios, abandonados,
Viram detritos nas portas de tascas e cafés.
O que é a vida?
É a subida da montanha por sendas misteriosas,
Entre árvores que abrigam e pedras que rolam?
Ou é a descida do caudal do rio,
Cortado por rápidos e correntes,
Que nos atiram contra pedras pontiagudas?
É o almejar atingir o cume iluminado,
Projetado no azul do céu,
Mas logo coberto de nuvens?
Ou é antever a foz e sonhar com o mar alto,
Que tanto nos liberta, como afoga?
É ver e cheirar flores campestres,
Crescendo em vales tranquilizantes?
Pinta de branco o barro cru da jarra tosca.
Coloca-a numa sala entre sofás e livros raros.
Enfia-lhe flores vistosas, colhidas numa estufa.
Põe-lhe um selo, um carimbo, dá-lhe um rosto…
E terás falsa porcelana.
Traça a cinza veios em seu bojo,
Esfrega verniz. Na boca um aro dourado.
Coloca-a sobre um suporte de negro polido.
Dá-lhe lugar vistoso, na sala de visitas.
E terás belo mármore.
Deita-lhe água dentro.
Pouco a pouco…
Cai o verniz, abrem-se brechas na pintura.