Vapor

Sei de cor o trilho da planície 

dourado frémito das cigarras

escorregam-me pelos seios estrelas-do-mar

passos na espuma tecida pela paixão das ondas

bordam-se teias nos pés 

chinelos sensuais que me viciam

sons no vapor quente do sal

consciencia de um rasgo de prazer ou do essencial 

in "Maresia" (2015)

Melancolia

Escrevo-te porque não me ouves,
e, sem falar digo-te que não esqueci.
Entre linhas são poucos,
Onde os sábios mais loucos,
Ainda chamam por ti.
 
Sem retorno partiste,
Abandonado aqui fiquei.
Em momentos que sorriste,
A minha alma mais triste,
Condenaste-a,e, eu deixei.
 
Quem será que me rendeu?
Ou terá sido a saudade,
Da solidão que apareceu,
E de certezas convenceu,

Fluindo em ti

Foi-se a vida repartida
 
em prantos flamejantes de mim
 
tecido em velados cantos pagãos
 
reescritos nos melhores
 
dicionários onde plantámos
 
nossa língua mãe
 
regulamentada em cachos de amor
 
servidos a cada instante
 
que te saboreias em mim
 
fluindo tanto rio em nós
 
 
– Depois de tantas primaveras

Estou doente

Estou contaminado por cactos
Que me picam as raízes na terra
Contaminado por surreais factos
Em caminhos cansados da serra
 
Estou contaminado por aves
Pelo caracol de cornos ao sol
De músicas feitas em caves
Da cor amarela do ovo mole
 
Contaminado pelas japoneiras
De joaninhas que floram do chão
Pela luz das amendoeiras
Calor felpudo de um minhocão
 
Que sente no dedo as abelhas

Pages