Cadê Você

Trouxe o vento teu perfume

Cerro meus olhos

Sonhei?

Sinto frio de saudade.

É tua ausência.

Falência múltipla de minhas ilusões.

Ainda há esperança!

É como uma criança este amor.

Teimoso... Gostoso

E é certo, não irá morrer.

Precisa de você.

Novamente sinto seu perfume...

E dele nunca vou esquecer!

Cadê você?

 

 

Porta fechada

Porta grande fechada por dentro
da sala da vida que foge de mim
A mesa redonda de jarra ao centro
E o cheiro seco outrora jasmim

E a outra sorte ficou lá dentro
o coração louco no outro lado
Sala negra que encerra o monstro
bateu forte em final anunciado

Janelas fechadas de sonhos opacos
deixam passar fluidos de saudade
guardaram lagrimas dos olhos secos
em caixas vazias da continuidade

Ouvem-se os sinos da aldeia

Já cá está... mais um! Já cá está... mais um!... Já cá está... mais um!!!!
Ninguém deve cruzar as pernas enquanto o sino bate a funeral!
E neste compasso metálico, repetitivo que fere as entranhas, passos lentos transportam a urna à ultima morada. Logo atras a família, reino do preto, olhos postos no chão, revivem memórias com a força ainda capaz dos corpos fragilizados, gastos no acompanhamento ininterrupto ao morto, na tentativa vã de inverter o fim. Tentam, avidamente, absorver todas as recordações que desejam perpetuar.

Medo

Eu e o meu medo às vezes falamos
na esquina da vida, escondidos no escuro
falamos tanto os dois no que não dizemos
encontramo-nos sozinhos em estado puro

Vamos tirando roupa no calor do silencio
pomos a alma a nu calados sem pressa
introspetivo poema da alma um prenuncio
fraqueza no escuro que ao medo se confessa

Mostro-te a ti meu medo quem sou eu
assim de corpo despido da alma nua
diz-me que somos todos uma parte do céu
e dou-te esta parte de mim sendo já tua

Julgamento

Não me julgues ainda
sei que sou a condenação
de ser eu.
Deixa que o meu tempo,
o tempo que eu não mereço
me envelheça e me condene
por ti, por todos
e pelo tempo que me dás.
Sabemos os dois
dos abraços adiados
e o vazio dos afetos que invento
fica suspenso
entre memorias perdidas
no tempo que eu te peço agora!

Dança do amor

Sob o pano a luz brilha quase sem se ver
ao longe passos de tango batem no chão.
E o angélico perfume daquela mulher...
dançando no decote ousado da canção.

Alvorada e ainda saias rebeldes na rua
violinos que gemem sem voltar atrás.
A flor perfumada brilha ao som da lua
sopra o vento ofegante no peito do rapaz.

O som do piano que dança com ela
as palmas de costas deitadas no chão,
fingem as mães não ver e sorriem à janela
na percussão vibrante do bater do coração.

Porto de abrigo

Porto de abrigo
Sou um barco há deriva no mar
Há espera de te encontrar
Quero no teu cais atracar

Porto de abrigo
Guia-me com o teu farol
Ilumina com o teu brilho a escuridão
Sé o meu sol

Porto de abrigo
Aconchega-me nos teus braços
Juntos, conheceremos a felicidade
Se o apoio dos meus passos

Porto de abrigo
Contigo quero dividir
Tudo o que a vida tem para oferecer
Em todos os momentos a tua presença quero sentir.

A necessidade que tenho de ti

Nem os brilhos da multidão conseguiram
Enfraquecer a necessidade que tenho de ti
Será culpa desta singular saudade
Ou dos excedentes do desejo que senti

Numa inesperada comunhão quase perfeita
Congregou-se nosso ser
Libertando fragmentos de felicidade
Numa divina serenata ao prazer

Que se da minha vontade dependesse
Jamais conheceria outro resultado
Senão aquele em que tu simplesmente
Estarias ao meu lado

Encantamento

Feri minha poesia
 
com overdoses extemporâneas
 
de desejos satisfeitos e insinuantes
 
egocêntricos
 
jubilando pelos teoremas
 
do tempo vadio
 
temperalmente tolerantes
 
nutrindo-te num sopro
 
de vida sempre mais possessivo
 
regenerado e tão expectante
 
 
Roguei ao teu sumido
 

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