Janelas

Abertas no solilóquio do vento,
Abruptamente batem entre si,
Janelas batem pensamentos,
Por vezes frívolos, chocam-se.

A jovial janela interroga:
— Por que tão rígida és?
A outra responde na hora:
— Porque a chuva agride-me.

Sucinta e clara resposta
Por satisfeita ela cala.
‘’Por que a chuva e não a Lua?’’
Pensa a janela tapada.

DIA ATÍPICO

 

 

 

hoje farei diferente

todos meus atos rotineiros

 

vou dormir após acordar

e comer no almoço o jantar

 

vou rir das pequenas tragédias

e lamentar as vitórias que perdi

 

vou me vangloriar pelas penúrias

e chorar pelas fáceis luxúrias

 

mas não se espantem comigo

por este desagravo ambíguo:

 

é somente uma reflexão

sobre a casualidade da vida

 

 

 

Estranhos montes

Sentimento de estranheza pelos montes,
Montes terrestres, montes do coração,
É como nomeio aquilo dito na mente.
Tem coisa que a gente não sabe falar,
Nem escalar como no monte insólito.
Deitarei sobre a cama para enfim escalar.
No vale dos sonhos o inominável descansa,
E no monte desconhecido, repouso. 

O MEU PÔR DO SOL...

No meu pôr do sol o poente desvanece dolorido grácil e extemporâneo
É a despedida nómada e vagabunda do tempo judiado ébrio e instantâneo
É o despencar de mil brisas perfumadas por um extenso sussurro tão cutâneo
 
No meu pôr do sol o tempo ajoelha-se junto à sinagoga das preces coniventes

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