Mais um dia

Mais um dia vazio, uma folha vazia, um sentimento vazio dentro de mim.

Mais um caminho sem destino, que percorro mas não tem fim.

Mais uma lágrima que caiu, uma pessoa que fugiu.

Um mundo que ruiu, um coração que partiu.

Mais um dia sem ser dia, onde de dia nem sol brilha,

E a chuva se fantasia, percorre a rua em danças nostalgia. 

RECADOS AVULSOS

A ROSA PLÚMBEA

o regaço avoengo tem profusas veias onde a criança dependura os cordames da fantasia.

A SINOPSE DO ENCANTO

as narrativas celebradas estão nos motetes que saem de partituras sublimes.

AS UTOPIAS EXCITADAS

quem pode explicar a voragem do homem quando rasura as utopias que inventa?

O BOCEJO INFINITO

verto na escuridão raios de luar empacotados que progridem pelo solo escalavrado da monotonia.

O CÍRCULO CAPRICHOSO

a velha alma destapa os velhos dias que o satírico decompõe em experiências originais.

Busca

Continuo a tua busca,

Na certeza de te querer inventar,

Na tua essência que me ofusca,

Apenas assim te posso reencontrar.

Foram as páginas de livros,

Que surgiram diante do espelho,

Que soaram aos meus ouvidos,

Que me mostraram que a ti me assemelho.

Somente te vi uma vez,

O teu olhar cruzou-se com o meu por um fio,

Foi a escolha que a vida fez,

Desapareceste para o vazio.

Luto com todas as minhas forças,

Se é que isso traz algum resultado,

Só peço que me ouças,

recados avulsos

A PALAVRA MALDITA

é uma palavra que foge ao protocolo esticando-se até que uma lágrima irrompa.

A PALESTRA DEMORADA

os anseios dum humilde arrazoador desafiam o arquiteto deste abominável lugar.

A PARÁFRASE ICONOCLASTA

ultrapasso o centro dos conflitos, recuo até às circunstâncias injuriosas, descubro a essência do homem grotesco.

A PARÓDIA DESCOMUNAL

li os relatórios de pessoas que se abrigaram em covis de prostitutas.

A PENUMBRA EXATA

 a crueldade arrastou o quarto para a rua e a rua para longe da residência maternal.

Oceano de Certezas incertas

Como é incerta esta noite que em mim mora Um Oceano de certezas incertas inunda minha essência Eu bebo trago a trago estas nevoas tenebrosas inquisidoras Perturbantes na sua voraz subtilea na qual me quero deixar envolver Um pendulo dourado e gigante acorda minha lucidez nublada com sua cadencia Ao ritmo de quem querendo falar tanto se cala Esvaindo-se de esforço repartido em mil encruzilhadas De inumeras crenças desacreditadas Passo a passo lentamente vou avançando Convictamente segura de que cada passo que dou pode ser um retrocesso em risos ou em lágrimas pouco importa Assumo-me eu própr

recados avulsos

A MONDA CULTURAL

o trilho, expurgado de mensagens angustiosas, é hoje um passeio de cultura e ensinamento.

A PALAVRA AUSTERA

galga a cancela do medo afastando o nevoeiro que impede a razão.

A PALAVRA BISONHA

é uma palavra liberta dos beijos repenicados e dos tratos ciumentos.

A PALAVRA CINZENTA

a palavra descoberta por um mendigo ao agitar o seu regaço.

poemas vários

A LUTA CONTÍNUA

o rescaldo duma guerra que abre os portões da lassitude aos belicosos e faz emergir os garotos que a seguem.

A MÁCULA TRANSVERTIDA

possuo tudo aquilo que as transfusões excitaram nos momentos aviltantes da minha cobardia.

A MÚSICA RURAL

os artefactos que a pobreza transforma em cânticos recitados nos serões tradicionais.

A MOAGEM FRENÉTICA

avista-se um recreio dos últimos patamares da minha biografia.

 

Feliz entrega

Sim te disse
Um Sim de trovões e nuvens carregadas com quedas colossais em cataratas de fogo

Mil abrigos por pinhascos de rasgar a pele
Tantas flores por abrir em veredas de horror

É em estranheza que se vislumbram borboletas belas borboletas de asas famintas
E ainda envoltas em teias emaranhadas de gritos e desesperos inocentes em negros lenços brancos acenando

Perante olhares de mentirosas verdades cosinhadas em lime brando

Tantos silêncios gritos surdos de bravura covarde

PATRÍCIA

Daquela que meu riso exigia,
Que a luz da ternura refletia
Não vou me esquecer!
Por mais que o tempo tente levar
O esplendor que eu via em seu olhar,
Irei sempre o ter!

Em minha mocidade plangente
Onde na aurora da estrada ardente
Tão cedo morri,
Perdido entre as vagas da existência...
Servo do desgosto e da indolência,
Eu a conheci.

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