Os Pasarinhos

Eu acordo preguiçoso

E os passarinhos estão cantando na árvore do vizinho.

 

Eu levanto sem vontade

E os passarinhos estão cantando na árvore do vizinho.

 

Meu dia corre violentamente

Entre coisas a fazer,

Desejos a conquistar,

Metas a cumprir…

Pensamento, ação, suor!

 

E, a zombar de mim;

A zombar de minha pressa;

Sempre que eu paro um instante

Ouço a algazarra

Dos passarinhos cantando na árvore do vizinho.

O Óbvio

Vós sereis o óbvio.

E, por assim serdes, sereis o mais invisível dos fatos,

A constatação última.

 

Vós sereis o óbvio.

Vossa aparição estarrecerá sempre o mundo.

A ciência sempre chegará a vós pelos caminhos mais tortuosos;

A imprensa sempre espantar-se-á ao deparar-se convosco;

Sereis sempre a conclusão das mais variadas pesquisas.

 

Vós sereis o óbvio.

E nunca deixareis de ser espantoso.

Sereis sempre o desafio às inteligências,

O desdém das genialidades.

 

Vós sereis o óbvio.

Anatomia Poética - Os Braços

Orgulhoso amigo:

Tua força é inquestionável,

Teu valor, imensurável.

Mas tu és tão vaidoso!

Não perdes oportunidade de te exibires.

 

 

Como se enganam contigo!

Acreditam que foste feito para a guerra…

Teu deleite é o amor!

Adoras estar em volta de alguém,

Entrelaçado em outro como tu.

Social mente

Se me apetecer dar-te um beijo
é imoral, não pode acontecer,
se me apetecer dar-te um abraço
será ousadia e vai comprometer.
Mesmo que goste do que vejo
e mesmo sem ver ouse o embaraço
de pensar no que poderia ser,
prefiro  cegar este desejo,
amordaçar o pensamento e fugir,
esconder-me nas ruas do social
e apenas  pensar em ti a fingir
no que seriamos se não parecesse mal!

Destroços

A esperança fluiu
A vã crença ruiu
O amor desapareceu
A paixão desvaneceu
A morte não encontrou salvação
A calma sofreu erosão
E a indiferença não obteve perdão
 
E tudo o que ficou
Foram destroços de uma vida
Restos de uma entidade querida
Pedaços de qualquer coisa perdida
Que, houve dias, foi vivida
Qualquer coisa... (re) querida

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