o outro lado do mar

esse nome de cidade

do outro lado do mar

um dia foi liberdade

agora é naufragar

 

o melhor será esquecer

aumentando a distância

podendo assim renascer

e ser de novo criança

 

mudos são os olhares

que decifram esta margem

mas podem vir aos milhares

que não matam a coragem

 

e quando o dia quiser

mergulhar nessa cidade

será de novo mulher

a terra da liberdade   

Carrascos

carrascos podem nos chamar
dentro da casa do povo
mas não nos irão calar
até ser Abril de novo

continuamos a luta
até o fascismo acabar
que barões filhos da puta
não nos vão fazer parar

é a nossa revolução
que já se sente no ar
ouve-se agora a canção
deste povo a lutar

o primeiro dia

os teus olhos só conheço

numa folha de papel

mas esse teu doce olhar

faz parecer ácido o mel

 

hoje o medo acabou

parece que é verdade

disseste-me o teu nome

eu chamei-te liberdade

 

já esqueci as avenidas

e ruas da cidade

onde tanto me perdi

onde estavas liberdade?

 

sei que não te posso ver

por seres mais livre que o ar

ninguém te pode prender

todos te querem amar

bairro mais alto

subindo o bairro mais alto

da Lisboa adormecida

um coração por roubar

e uma rima esquecida

 

poeta pudesse eu ser

num dia de revolução

para te oferecer um cravo

ou talvez uma canção

 

mas alguém chega primeiro

quase num sobressalto

e antes de eu te aprender

leva-te ao bairro mais alto

 

e da mão que se abria

para na tua se fechar

apenas lhe resta força

para o punho cerrar

o poeta

não confies no poeta

ele não te escreverá poemas

desenhará o teu nome

em todas as direcções

fará de ti o poema

não confies no poeta

irá vestir-te de palavras

rasgadas

o teu corpo nu será metáfora

não confies no poeta

ele despejará o amor

numa folha de guardanapo

inundada de letras

apressadas

numa qualquer esplanada

fria

não confies no poeta

o poeta não te ama

e é demasiado ingénuo

para perceber que sem querer

o faz

Sei-te no abraço...

Sei-te no abraço de ontem,
de hoje e dos que estão por vir,
os teus braços quando me envolvem,
ai amor tu fazes-me sentir,
coisas que eu não sei explicar,
porque os braços não falam,
vivem eles de apertos,
e quanto mais apertados se calam...

Sei-te...e sei-me a mim,
de nós dois só Deus sabe,
o tanto que vai no nosso enlace,
e quanto querer nele cabe...

Ártemis

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