Poema da página em branco

* * * *

Fito desolado o papel em branco...
Sem nada para ver,
Sem nada para sentir…

É duro querer escrever
E a palavra recusar-se a sair!...

Em abono da verdade,
Até a caneta parece estar sem vontade
De acorrer ao apelo do papel.

O cérebro não está cá
E todos os meus sentidos
Estão como que entorpecidos.

A boca áspera sabe a fel
E as pernas estão dormentes,
De tanto esperarem nada.

Até a música me deixa indiferente
Nesta tarde gentia,
Danada
De fria!

Quando o perfume da Primavera

«Quando o perfume da Primavera
Tanto é do ar do meu coração
As estações da vida são todas
Só o meu amor…
E o cristalino do existir
Tem todo
O mar do teu olhar
E os únicos rumos dos meus barcos
São todos só a tua baía
E o sol da minha areia- corpo
Vive só da espuma- sal das tuas ondas
Do teu vaivém de vagas crespas
Que se amenizam no colo doce
Do regaço que te dou…»

(RMP)

(in Um Amor que vence Chronos)

(Des)fim

«(Des)fim

Loucura de ser do teu nome as vogais
Vertigem de ter no teu corpo todo o sal
Alívio suave de viver na água do teu olhar
Rasgo perene de, em ti, apagar a mediocridade
Frescura do segredo, no desejo das tuas searas
Seara loura que incendeio no teu corpo
Sede. Sede que o teu azul não apaga
Fome. Fome de nós dois no atalho para a alma
Alma, Alma que é tão imensa…
Fome e Alma, Corpo e Sede
Existir em nós que nunca terá
Fim.»
(RMP)

Se de nós o tudo sabemos tão pouco

«Se de nós o tudo sabemos tão pouco
Se dos outros o nada é tão feroz
Se da Vida queremos tanta Luz
Amar é sempre este risco
Esta intensa incerteza
De nunca saber os tons reais
Do fosco baço
Do entre-estar e Ser»

(RMP,
in Um Amor que vence Chronos)

CRISTALIZO EM MIM

«Cristalizo em mim
O viver poetizando,
Recordando sentimentos,
Perdidos por entre os fios da memória...
Organizo ficheiros recalcados
Sobrevivendo à minha história...

Edito o ser. O sentir. O coração.
Dito a emoção, vencendo a razão.
Imagino um utópico devir,
Torturo este trauma de sempre ter de Partir.
Olho-me, reolho-nos, reinvento-te...
Recrio Vida, recomeço livre,
Admiro-te e reentrego-te o Sorrir!»

(RMP)

ANTES QUE TUDO ACABE

«Antes que tudo acabe
E que a batalha se trave
Entre o que se foi e o que se é

Antes que o dia termine
E a noite venha e elimine
A clara luz que nos tece e cria

Antes que o tempo
Venha e definhe
E nos mergulhe e nos iluda
E nos roube toda a magia

Antes que tudo
Antes que mudo
Antes que preso e triste
E velho em riste

Que tudo valha a pena
Que tudo registe a pena
Que do nada se faça e crie
Que de Tanto tudo se ilumine!»

(RMP)

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