Vem do rio, minha alma cantando

Olhos

Espetados em mim como navalhas.

A ferro e fogo

Destruo o que me consome

E nas chamas derrubo

O que me engole.

Em tristes passos cansados

Corro um trilho anguloso

E de braços desarmados

Ignoro o que até hoje aprendi!

Não é solução

Nem tão pouco evasão

É sim um pedaço de mim

Que pede libertação

E a correr deslargo tudo

E me ausento por um segundo

Vem do rio, minha alma cantando

É onda firme, triunfando!

Vou deixar a minha terra

Vou amar meu novo ser

Imortalidade

E se a morte de súbito, se suicidasse?

Quem, neste mundo, iria
Estabelecer a contínua ordem da vida?
Ficaríamos da mortalidade, desprovidos

Vivendo no ócio de nunca morrer.
Nossas peles enjelhariam-se, formando fendas negras onde
Milhares de bactérias se deleitavam
Nossos olhos seriam dois pontos clandestinos sob
Frias e cansadas pálpebras
Nossos membros cairiam despedaçados,
derrotados perante a irrelevância temporal.

E meu sangue...

Mas nem as mais perfeitas mãos são imunes. “E meu sangue você não toma!”, mas imperativo nenhum impede a águia de cravar sua rapina na víscera putrefata. Sei que a maioria daquelas marchas não vibram os pés de quem as conduz. Elas existem solitárias para as botinas. Até para longe do guizo da cascavel os calcanhares se dissipam. “E meu sangue você não toma!”, mas já estava demasiadamente tarde para se enxergar através do medo. Lá no meio do caminho surgiu a cruz; tão funda e podre quanto os meus pés no charco. “E meu sangue você não toma!” e o medo prenunciou a pedra que rola.

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