RETOMANDO O RUMO

 

 

 

reler a luz

provisória dos esboços

como se apura

o pus

nas feridas das trevas

-paisagens difíceis

entre cipós revoltos

(como ninho de najas)

a confundir

o mérito desses versos

com incontestes

desvios de rumo

em que o poeta

se supera e retoma

o mérito

de não recuar

à sua pretensão

de esteta de palavras

e pacato artesão  

 

 

 

 

 

 

 

 

Toquei na alma

Toquei na alma e pressenti na derme dos silêncios
O tinir e vibrar de uma fluorescência tão desodorizante
Ali um eco periódico esboroa-se felino, volátil e sussurrante
 
Toquei na alma e reconheci nas palavras a doce licorosidade
Que apascenta o pleno esvoaçar do tempo alucinante, tão sibilante

A ÁGUA FLUI SEU CAMINHO

 

 

 

 

        Quando o mundo é descrito através de símbolos e signos, vale mais a imparcialidade de um cego que as trevas das descrições mundanas.

        Pois uma dada coisa não é uma coisa em si, é produto apenas da observação à partir de um dado referencial, que a descreve com o senso dos sentidos e de seus atributos familiares, conhecidos, constatados.

Voando nas palavras

Minhas trevas afogam-se na língua,
Angústia da sede que se confisca,
- Sendo lânguido na taça da míngua,
Tomo tormento pelo qual à risca.

Obstetra: sempre opero na má-língua,
Palavreado da noite se pisca,
Na lua brilha a doce pasilíngua,
Assim trovo a sede que se petisca.

Morcegos sobrevoam boa sorte,
Nas asas da escuridão bastam-se,
E a mim, rastejo nas lamas da morte.

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