SEXTILHAS A UM MENINO JESUS D'EVORA
Autor: Augusto Gil on Friday, 14 December 2012_A João Barreira_
«Em Evora vi um menino...
...Que a dois annos não chegava
...Era de maravilhar»...
Garcia de Rezende. _Miscellanea._
Num convento solitario
D'Evora, cidade clara,
Claro celleiro de pão,
Existe uma imagem rara
Obra dum imaginario
Dos tempos que já lá vão...
É um menino Jesus,
De bochechinha brunida
Côr de maçã camoeza,
Mas no seu rosto transluz
Uma expressão dolorida
Que enche a gente de tristeza...
Acredito que estou no inferno, portanto estou nele.
Autor: Rimbaud on Friday, 14 December 2012Acredito que estou no inferno, portanto estou nele.
Se é Doce
Autor: Bocage on Friday, 14 December 2012Se é doce no recente, ameno Estio
Ver toucar-se a manhã de etéreas flores,
E, lambendo as areias e os verdores,
Mole e queixoso deslizar-se o rio;
Se é doce no inocente desafio
Ouvirem-se os voláteis amadores,
Seus versos modulando e seus ardores
Dentre os aromas de pomar sombrio;
Se é doce mares, céus ver anilados
Pela quadra gentil, de Amor querida,
Que esperta os corações, floreia os prados,
A UNS OLHOS AZUES
Autor: João de Deus on Friday, 14 December 2012Cahe a folha da rosa pudibunda,
Cahe a rosa da face virginal,
Cahe das nuvens a aguia moribunda,
Cahe o sol na montanha occidental.
Cahe a onda na praia, cahe do somno
O poeta na luz; e cahe das mãos
Dos despostas o sceptro, elles do throno,
Como a seus pés cahiram seus irmãos!
Cahe dos labios o riso; cahe dos olhos
A lagrima tambem, que d'alma sahe;
Cahe a rocha no mar, cahe nos abrolhos
A flôr de liz; de louro a folha cahe.
*AQUELLE SABIO*
Autor: Gomes Leal on Friday, 14 December 2012N'aquellas altas janellas
Que deitam para o telhado;
Eu vejo-o sempre encostado,
A namorar as estrellas.
Tem assim ares d'empyrico
Mui lido em philosophástros;
É um pobre poeta lyrico,
Que escreve cartas aos astros.
Traz luto nos seus vestidos
Por uma Ophelia de menos,
Tem uns cabellos compridos,
E uns olhos tristes, serenos.
Parece um Jove proscripto,
E já descrente das Ledas,
Conhece o hebraico, o sanscrito
E os livros santos dos Vedas.
S.^{ta} Iria
Autor: António Nobre on Friday, 14 December 2012N'um rio virginal d'agoas claras e mansas,
Pequenino baixel, a santa vae boiando...
Pouco e pouco, dilue-se o oiro das suas tranças
E, diluido, ve-se as agoas aloirando.
Circumda-a um resplendor, a luzir esperanças,
Unge-lhe a fronte o luar, avelludado e brando,
E, com a graça etherea e meiga das crianças,
Formosa Iria vae boiando, vae boiando...
Á lua, cantam as aldeãs de _Riba-Joia_,
E, ao verem-na passar, phantastica barquinha,
Exclamam todas: «Olha um marmore que aboia!»
*Episodio balnear*
Autor: Joaquim de Melo... on Friday, 14 December 2012 N'uma _soirée_ heroica, ignea e linda
Jurára o fulvo Arthur até á morte
Ser da formosa e pudibunda Olinda
Chumbando a ella p'ra sempre a sua sorte.
Por ella ao inferno iria, o mar ainda
Beberia d'um trago! Ella é seu norte,
Meiga estrella de lucido transporte,
Palpitante de rubra graça infinda.
De manhã cêdo a nossa _Julieta_
Desce nas crespas vagas a banhar-se
Mascarada n'um fato de baeta
A MÃE E A FILHA
Autor: Soares de Passos on Friday, 14 December 2012
Não tenho pressa
Autor: Alberto Caeiro on Thursday, 13 December 2012
Escrito em 20-6-1919.
Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.