Acredito que estou no inferno, portanto estou nele.
Autor: Rimbaud on Friday, 14 December 2012Acredito que estou no inferno, portanto estou nele.
Acredito que estou no inferno, portanto estou nele.
Se é doce no recente, ameno Estio
Ver toucar-se a manhã de etéreas flores,
E, lambendo as areias e os verdores,
Mole e queixoso deslizar-se o rio;
Se é doce no inocente desafio
Ouvirem-se os voláteis amadores,
Seus versos modulando e seus ardores
Dentre os aromas de pomar sombrio;
Se é doce mares, céus ver anilados
Pela quadra gentil, de Amor querida,
Que esperta os corações, floreia os prados,
Cahe a folha da rosa pudibunda,
Cahe a rosa da face virginal,
Cahe das nuvens a aguia moribunda,
Cahe o sol na montanha occidental.
Cahe a onda na praia, cahe do somno
O poeta na luz; e cahe das mãos
Dos despostas o sceptro, elles do throno,
Como a seus pés cahiram seus irmãos!
Cahe dos labios o riso; cahe dos olhos
A lagrima tambem, que d'alma sahe;
Cahe a rocha no mar, cahe nos abrolhos
A flôr de liz; de louro a folha cahe.
N'aquellas altas janellas
Que deitam para o telhado;
Eu vejo-o sempre encostado,
A namorar as estrellas.
Tem assim ares d'empyrico
Mui lido em philosophástros;
É um pobre poeta lyrico,
Que escreve cartas aos astros.
Traz luto nos seus vestidos
Por uma Ophelia de menos,
Tem uns cabellos compridos,
E uns olhos tristes, serenos.
Parece um Jove proscripto,
E já descrente das Ledas,
Conhece o hebraico, o sanscrito
E os livros santos dos Vedas.
N'um rio virginal d'agoas claras e mansas,
Pequenino baixel, a santa vae boiando...
Pouco e pouco, dilue-se o oiro das suas tranças
E, diluido, ve-se as agoas aloirando.
Circumda-a um resplendor, a luzir esperanças,
Unge-lhe a fronte o luar, avelludado e brando,
E, com a graça etherea e meiga das crianças,
Formosa Iria vae boiando, vae boiando...
Á lua, cantam as aldeãs de _Riba-Joia_,
E, ao verem-na passar, phantastica barquinha,
Exclamam todas: «Olha um marmore que aboia!»
N'uma _soirée_ heroica, ignea e linda
Jurára o fulvo Arthur até á morte
Ser da formosa e pudibunda Olinda
Chumbando a ella p'ra sempre a sua sorte.
Por ella ao inferno iria, o mar ainda
Beberia d'um trago! Ella é seu norte,
Meiga estrella de lucido transporte,
Palpitante de rubra graça infinda.
De manhã cêdo a nossa _Julieta_
Desce nas crespas vagas a banhar-se
Mascarada n'um fato de baeta
Escrito em 20-6-1919.
Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Não me importo com as rimas. Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
Penso e escrevo como as flores têm cor
E dai se teu bilhete de identidade afirma que tens mil anos?
E daí se teus olhos já não enxergam tão bem como ontem?
Se teus passos já não são tão firmes e a voz tão poderosa?
Olhe-me aquí dentro do meus olhos e com os teus
abraça-me...
Não vejo tua bengala
Não apalpo as batidas do teu coração exausto