Azul ou Verde?
Autor: Raquel Soares on Wednesday, 26 December 2012Quando olho para o céu azul
Penso que estou sendo puxada da terra,
Pois a sua cor é tão envolvente como a força de atração da eletricidade.
Olho as estrelas em meio a uma extensão preta
Pra mim elas são como pontos ou buracos
Chamando-me para ir de encontro a elas.
Quando me lembro da imensidão azul
Daquele cheiro de mar choro,
CARTA A UM RAPAZ SENTIMENTAL
Autor: Augusto Gil on Wednesday, 26 December 2012«Um mover d'olhos brando e piedoso
	Sem vêr de quê; um riso brando e honesto
	Quasi forçado; um doce e humilde gesto
	De qualquer alegria duvidoso
* * * * *
	Um encolhido ousar; uma brandura,
	Um medo sem ter culpa; um ar sereno,
	Um longo e obediente soffrimento.
* * * * *
Camões
	Num quente e perturbante fim de tarde,
	Cujo magnetico e profundo enlevo
	Ainda agora em mim crepita e arde,
	Como se fosse a tarde em que te escrevo,
*Ah Deixem-me Dormir!*
Autor: António Nobre on Wednesday, 26 December 2012O Poeta
	Olá, bom velho! é aqui o _Hotel da Cova_,
	Tens algum quarto ainda para alugar?
	Simples que seja, basta-me uma alcova...
	(Como eu estou molhado! é de chorar...)
O povo
	    O luar averte as orvalhadas sobre a rua!
	    Jezus! que lindo...
	Vamos! depressa! Vem, faze-me a cama,
	Que eu tenho somno, quero-me deitar!
	Ó velha Morte, minha outra ama!
	Para eu dormir, vem dar-me de mamar...
A S.^{ra} Julia
São as Janeiras da Lua!
O Coveiro
*NA CABECEIRA D'UM LEITO*
Autor: Gomes Leal on Wednesday, 26 December 2012Quando as tuas mãos inermes
	Forem em cruz sobre o peito,
	E que te roam os vermes
	Ó corpo branco e perfeito!
	E sejas cheia de terra
	Boca cheia de risadas,
	Chora este amor que me aterra...
	Pelas noutes estrelladas!...
Olá, guardador de rebanhos
Autor: Alberto Caeiro on Wednesday, 26 December 2012
1ª publ. in Athena, nº 4. Lisboa: Jan. 1925.
«Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
A CANÇÃO DAS PERDIDAS
Autor: Augusto Gil on Tuesday, 25 December 2012_A Vianna da Motta_
I
	Quem por amôr se perdeu
	Não chore, não tenha pena.
	Uma das santas do céu
	--É Maria Magdalena...
II
	Minha mãe foi o que eu sou.
	Eu sou o que tantas são.
	Que triste herança te dou,
	Filha do meu coração!
III
	Meu pae foi para o degredo
	Era eu inda pequena.
	Se não morresse tão cedo,
	Morria agora--de pena...
IV
	E ha no mundo quem afronte
	Uma mulher quando cae!
	Nasce agua limpa na fonte,
	Quem a suja é quem lá vae...
NA FOLHA D'UM ROMANCE
Autor: João de Deus on Tuesday, 25 December 2012    Moldada ao bem nasci, mas debil planta
	    Verguei de vicio ao sopro pestilente;
	    D'entre o vicio porém minha alma ardente
	    Castos hymnos a Deus saudosa canta.
	    Ah! se um mentido affecto amor levanta
	    N'um pobre coração inexperiente,
	    D'elles a culpa é toda! uma innocente
	    Não consulta a razão, razões supplanta.
	    Cahi, verguei, Senhor! já pervertida
	    Graças, beijos vendi, vendi belleza,
	    Triste commercio de mulher perdida.
NÃO!
Autor: João de Deus on Tuesday, 25 December 2012Tenho-te muito amor,
	    E amas-me muito, creio;
	    Mas, ouve-me, receio
	    Tornar-te desgraçada.
	    O homem, minha amada!
	    Não perde nada, goza;
	    Mas a mulher é rosa...
	    Sim, a mulher é flôr!
	    Ora e, a flôr, vê tu
	    No que ella se resume...
	    Faltando-lhe o perfume,
	    Que é a essencia d'ella,
	    A mais viçosa e bella
	    Vê-a a gente e... basta.
	    Sê sempre, sempre, casta!
	    Terás... quanto possuo!
*Males de Anto*
Autor: António Nobre on Tuesday, 25 December 2012A Ares n'uma aldeia
      