A penúria de um drogado

Um dia as artérias irão soterrar pela decadência suja. As agulhas enferrujadas não injetarão misericórdia. Os zumbis cairão em pedaços inúteis e uma pomba branca voará o céu. Uma ode a Notus, o filho bastardo da família desprezível, aquele fleumático disperso tangente a sua realidade. O homem sem objetivo, sem rumo e decência nas normas da vida. Pensou tanto no que fazer, nada fez. Lamentou tanto no que poderia errar, errou mortalmente.

Escuridão intimidante

Nesta escuridão intimidante cada breu jaz acabrunhado e excitante
Pernoita no algeroz dos mais infinitos e apaziguantes ecos pujantes
Envolve-se num ritual de palavras ardendo no crematório dos desejos asfixiantes
 
Nesta escuridão intimidante as sombras deambulam pelo parapeito das tristezas urgentes

O Ferreiro

Na força do ferro
A batida do martelo
Criando resistência
Na tenaz obediência
O ferreiro ranzinza
Assopra o pó cinza
De luto por felícia
Pela vida sevícia.

No perigo diário
Sofre tudo calado
Na barba anciã
Carrega a vida vã
Aposentado só
Morreu sem dó
Escondeu amor
Na forja em dor

 

 

Ainda há tempo

Temos tantos sentimentos
Tantas coisas a serem ditas
Tantos puros lamentos
E situações malditas
Esquece nosso interior
Aos olhos do outro
Na vertigem do abismo
Apagam nosso fogo
Puxe mais um trago
Enquanto dê sumiço
Reze ao sacro, ao
Fugir do compromisso
As lágrimas ignoradas
Cedo ou tarde voltará
Entenda teu inconsciente
Pois, um dia, sucumbirá

Aventura Poética

 

Fernando Pessoa foi um escritor e poeta frequentador de cafés. Era da mesa do café que ele, através da escrita, “viajava” pelo mundo. Muito do que Pessoa escreveu tem a ver com aventura dos portuguêses pelo mar/oceano desconhecido.

Nesta pintura coloco o poeta a escrever na mesa do café que é simultaneamente o cais das colunas como o ponto de partida do sonho poético sobre a viagem; os navios que partem – barcos de papel – são os próprios poemas, que a algum porto hão de chegar.

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