Flores

Flores opacas, causadas
Pelas chuvas contadas,fracas
Flores sem belas cores
Representam crises e dores
Rosas carmesim
Rosas vibrantes
Rosas que representam
Amor sem fim
Flores de intenso perfume
Que enfeitam e deslumbram
A nossa casa, e no túmulo
por que a vida e um conjunto
O silencioso e pálido defunto
Jardim de muitas flores
Escolham qualquer uma pra mim
Pode ser uma mistura de todos sentimentos e cores
Sei mesmo que este mundo é: confusão e dissabores
Alegria e palidez

Vila Madalena

Essa rua, saudade em cada neurônio, me conduz
A rota zero, da minha finita paz e amargura
Veneno sentimento que contamina o rio e introduz
Estes grilhões,que envenena, infinita tortura

Cada palmo da minha infância,ainda tenho sede
Minha arena e paraíso infantil do bem, Vila Madalena
Da arena saí,em corpo adulto,tristeza que não procede
Porque ,o insensato tempo não percebe, alegria pequena

MULER

MULHER

 

Quando tudo é pouco

E o que se é não chega

Pergunta-se o Deus onde falhou,

Pobre diabo

Ignorante de si mesmo,

E tu,

Nasces de ti

Sem te teres por amparo

E choras de amor.

 

Quando tudo é pouco

E o que se é não chega

És montanha onde dormem os ecos

De cegas súplicas perdidas

Sedentas de agradecer em sorriso.

Fazes das mãos melodia,

És o soar que cuida,

Pele alcova de milagres.

 

Quando tudo é pouco

E o que se é não chega

NIRVANA

Por que falas?

Por que falas comigo?

Nada entendo do teu linguajar.

Se choras,

Choro contigo;

Se sorris,

Palpito em alegria;

Aos teus convites,

Só sei dizer que sim.

 

Acertar o meu passo ao teu

Sentar-me nas tuas esperas

Estar sempre em ti

É o que me faz feliz.

 

Escolheste-me e eu só sei ser tua.

 

ESCURIDÃO

ESCURIDÃO

 

Chegou o dia,

Foi a maré viva que o anunciou

Trazia na espuma acordes de alucinação

Fragmentos do canto da unidade primordial

Qual coro trágico

Senhor das nuances do destino.

 

A manhã engalanou-se

O cheiro verde da campina

Bordou em bilro a luz mãe do derramar da terra,

No ar bailou difusa a exaltação da vida

Sorriram os frutos nas máscaras de vermelho.

Juntos segredavam em entusiasmo descarado:

— Chegou o dia.

 

HEDONISMO

HEDONISMO

 

Só por maldade

Se pode negar o vermelho à maça

Qual voz rouca suavemente arrastada

Que pede à mão cuidado na colheita.

 

Assim fez Eva,

O seu corpo entornou-se em luz

Que delicadamente beijou os olhos de Adão

Que sem saberem já suplicavam beleza.

 

Deus, já velho, virou a cara

Procurou reminiscências do arrepio

Provocado pelo frenesim das células

Mas só encontrou despojos

De guerras, pragas e castigos.

 

Olhos de vidro não choram

MIDAS

MIDAS

 

No tempo

Em que as coisas eram o que eram

A naturalidade acontecia naturalmente

A noite era o adormecer do dia

E o primeiro raio de sol

O campeão das corridas à velocidade da luz.

 

As coisas eram o que eram

Sem razão nem porquê

A simplicidade,

No sentido simples da simplicidade,

Era a essência do choro sobressaltado do rio

Era a paciência da planície

Na intermitência da sua vontade.

 

Quando as coisas eram o que eram

Não havia sujidade,

ADRO

ADRO

 

Ainda é noite nos meus olhos,

O sol teima em arrancar-me à morte

A que me entrego em esperança fingida.

 

A indiferença das vontades prisioneiras do conteúdo dos sacos de plástico

Que o corpo carrega contente

Como extensões com que a natureza o dotou

Castiga as tentativas de me arrancar ao degredo.

 

Acabou a missa,

As almas benzidas fundiram-se com o bafo a álcool,

Eu assisto ao arraial consciente da minha transparência.

Não pequei menos na renúncia ao copo de vinho

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