Teus Olhos Entristecem

Teus olhos entristecem
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.

Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.

Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Espírito de porco

Meio nado antes de se afogar
mas para quem quer viver
pela última balsa
aprenda a Viana valsar
qual é a cor da tua imagem?
Camaleão ao massacre!

Que não disfarça o seu punhal
faz selvageria em contra ataque
a minha religião continua
a prova dê saque
mas tu, presta atenção
e caridade

Do pó veio o homem
E do carma, o selvagem?
Não consigo entender esse amor
ou pensamentos retráteis
e cores fracas em tatuagens

cicatriz

Estive em versos a lhe procurar
as ruas a noite são deserta
não te escuto em são Paulo
se possível um grito a lhe achar
teu corpo espalhado entre rosas vermelhas
doce é teu perfume
louca na noite
saio a lhe procurar
novamente a lhe sentir
deixou marcas
feridas abertas
posso ao menos saber a que horas voce volta
ou não
posso saber em que bar esta bebendo
posso fazer companhia
então tá fico a lhe esperar
canções e cicatrizes
esperando o dia amanhecer..

A lisura do tempo

Com lisura o tempo esconde-se por trás das cortinas
Da minha solidão algemada no domicílio de todos
Os lamentos provenientes de uma hora arredia, tão vadia
 
Por tudo e por nada vicio-me nesta saudade ali confinada
Ao latifúndio das tuas gargalhadas marginais, quase imemoriais
Ah, como serão esplêndidas as manhãs nascendo airosas e integrais
 
Com lisura o tempo faz defenestrar a luz provinda lá da planície das

Noite de luar encoberto

Numa noite tão obscura e empoeirada,
Almas desoladas fazem casa nos prazeres
Pecadores das velhas ruas de sombrios ruídos
E dramáticos afazeres desgostosos.

Perdido neste inferno tão saboroso,
Inquieto e isolado estou, claustrofóbico,
Já que de tanta gente vagabunda no mundo,
Nenhuma se esforça para entender o vazio.

Mas eis que me vem uma familiaridade,
O olfacto captura uma memória terna,
E no instinto eu atuo, recebendo o presente
De quem decidiu fazer-se alguém a mim.

Lembranças do Ferrorama

O tempo colapsou de diversas maneiras:
eu não tive "Ferrorama" na infância
mas percebi que estava entrando na fase das maiores responsabilidades
que não havia mais tempo para brincadeiras
a viagem da vida às vezes é pelos trilhos
outras vezes por estradas áridas e dramas
vou ser ilógico
num espaço de tempo
meteórico
vou trazer instantaneamente quase todas as
ruas asfaltadas de minha infância
prefiro salvar a história até quando o juízo permitir ou pelas
cartas do fantasma do passado

Epitáfio

Há dias em que meu quarto não tem porta
Não desejo ir para lugar algum
Seria bom ter opção mas não tenho

Às vezes me pego questionando
Será que vou morrer aqui dentro?
Sufocada pelo o que não foi dito

Raramente eu abro a janela
Não me sinto muito confortável com a luz
É brilho demais para os meus olhos cansados

Uma nova aurora

Levantem-se os céus em azulada aurora,
Banham-se as nuvens das novas vontades,
E enquanto o mundo ainda dorme
Salta do leito do descanso uma bela vista.

Dou graças por ainda poder descansar
E saber que posso relaxar.
Aguarda-te o renascer da rotina
Numa paisagem que nunca sabia existir.

É saboroso conhecer esta maravilha
E a ela poder sonhar e amar.

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