não fique ai calada
dê um tempo pra nós mesmo
imagina nós dois nus olhando a tv
imagina nós dois nos consumindo
e o dia amanhecendo
pode ser que temos algo em comum nascemos um para o outro ou não se foi coisa do destino
não vamos culpar nada
teu cheiro quem sabe embriagou o dia
te olhava
não poderia te perder

concretizo a ânsia de saber explorando os livros dos ilustrados e as suas declarações sobrepostas ao mundo onde vivemos: às falcatruas que ele engendra para confundir o nosso raciocínio; para ampliar a nossa solidão.

transporto comigo as facécias da juventude para as retalhar em bocados valiosos que introduzo na poesia; em rituais que promovo para aglutinar na minha índole os momentos de irrisão; os meus vestígios indecentes.

predomina a circunspeção nos meus versos quando eu recupero os sinais de esperança que decaíram na letargia; no buraco profundo dos meus objetivos gorados pelo medo e pela repulsa; na alma cinzenta que granjeei.

as minhas atitudes vigentes possuem o teor da liberdade; possuem os afetos profundos que busquei nas contradanças a que sobrevivi; possuem a regeneração como alvo quando medito nos lugares sórdidos da minha decadência.

cavalgam os ventos
indomitas carruagens

Imunizando o espaço
contra a desolação

desenham palavras nas nuvens
como eximios profetas /da fé/j

o fervor que colocamos nas nossas andanças poéticas é que nos faz progredir: ele gera o repúdio do sofrimento e das fúteis atuações; ele transmite-nos o engenho e a clarividência para acometer os desaforos das maiorias.

há quem deseje agredir a imaginação embutida numa nomenclatura que nos afasta dos estertores mundanos; que converte as nossas dores em momentos de alegria; que reforça as nossas fundadas aspirações.

o recreio onde a liberdade se purifica com os vislumbres da minha infância: com a saudade dos momentos lúdicos que gozei; com os jardins cristalinos onde sorvi memórias aprazíveis; com as emoções airosas que desloquei para a poesia.

Havia um olhar que percorria as horas
nada de dentes acanhados
mordidas aceleradas que mordiam
paladar sem muito gosto
uma clarividência clássica
aquela voz a clamar :
-menino vem jantar !
pois sempre dispensávamos o almoço

Estou com a mesma paciência de sempre
a dar ouvidos de forma amena
décadas e mais décadas
chamados que não intimidam mais
a fome era pouca !
os "Kichutes" no futebol
não podíamos abandonar a partida