Burguesia

Bem-vindos ao mundo

Encantado da burguesia

O proletariado vai ao fundo

Riqueza é fantasia

 

Há desigualdades e materialismo

Dominação corporativa

Há privados e socialismo

E pobreza é relativa

 

Ignorância leva ao fascista

O moderado fica a pensar

Sem estado não há comunista

Não Sousa

Não Sousa

 

Uma cadela pastora alemã

Ladra quando abro a janela

Olho para ela com uma romã

Ao lume tenho uma panela

 

Não tenho ícones nem heróis

Não sou ninguém para ter um

Embrulho-me em cachecóis

Palavras soam em lugar algum

 

Não sou Guevara, nem capivara sou

Quem precisa de poesia?

Quem precisa de poesia?

Quando já há fábricas

Quando há máquinas

Tão, tão, rápidas

Quem precisa de poesia?

No asfalto e alcatrão

No cimento e betão

No carro e no camião

Quem precisa? Quem?

Tendo já as cidades

Aromas que sabem tão bem

Quem precisa de poesia?

Quando se tem a guerra

Pessoas focadas

As pessoas focadas no seu trabalho

como um croupier e suas cartas do baralho

Afastam-se da realidade do que é o amor e de o que o sustenta

O que o sustenta são as florestas e o carvalho

Não é uma fingida água benta

O que o sustenta são os oceanos e o rodovalho

Não é a família presa por uma chiclet menta

Presunção e água benta cada um toma a que quer

Mas isso não funciona como o amor

Pois és amado até sem querer

E no meio de tanto esplendor que é o universo

O homem continua na labuta sem prazer

Poema só sentido é poema desmedido

Tema é uma receita

Poesia rarefeita

Desmedido o sentido

 Meu poema preferido

 Lavo as minhas mãos

 Manápulas são sãos

 Poema não é assunto

 Intelecto prostituto

Estico os dedos, todos eles

 Dobro o corpo, fico torto

 Evito o pensamento, uso a mente

 Fora de mim, estou absorto

 Poesia que me rodeia

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