O poente da Monalisa
Autor: Frederico De Castro on Thursday, 19 September 2024
repudio o sofrimento para oferecer aos leitores um pranto enxugado; para dissecar a mudança que abrangeu a minha existência; para estatuir a liberdade no chão fecundo da poesia.
a alma que eu deneguei está agora nos calabouços do meu juízo; nos resguardos das meditações onde eu distendo os versos que escrevo; nos antípodas duma existência benigna que incorpora a minha atual condição.
a rivalidade estrondeia quando a progressão se faz por trilhos desregrados; quando a vida se iça desde lugares que se pretende deslembrar; quando aquilo que resta é uma correria implacável pelo sucesso.
os versos que invento para alterar o meu fado... para me redimir dos meus fracassos e das minhas profusas rebeliões... para realçar o desassombro de viver sem afeição...
transudo as minhas mágoas e os meus miseráveis afetos; avanço pelas catacumbas do ócio para oferecer reflexões a quem interpreta os meus versos; preservo o júbilo gravado no meu âmago porque ele resulta duma intensa harmonia.