Saudade

FLORES DESPIDAS

Quando eu morrer, não digas a ninguém.
Partilha comigo alguns minutos,
uma noite inteira.
Cobre o meu corpo frio
com um lençol branco.
 
Quando eu morrer,
recita um soneto, um poema
que escrevi, talvez o tenha escrito para ti.
Fica junto de mim.
 
Quando eu morrer,
deixa-me ver, mais uma vez, o mar.
Promete-me que não choras,
que não tocas com a tua boca
os meus lábios frios.

Ozzy

Chegaste

Pela mão dela

Ficaste

Pequena, amarela

 

Eras quem mais falava

Numa pequena casa

Guardavas quem te mimava

Debaixo da tua asa

 

Não te vi a partir

Mas senti a tua ausência

Custou-nos dormir

Num lar em dormência

 

No fim de um dia vasto

Abrias as asas para nós

Dormias no ombro encostada

E o ranger de um bico gasto

De uma velha ave cansada

Era a tua única voz

 

Agora descansas de vez

Nas traseiras deste lar

PERDER UM FILHO, UM ANJO

É chorar em silêncio, chorar secretamente
É morder o travesseiro todas as noites
É morder os dias para continuar
Onde o mundo simplesmente desabou
Porque as palavras não se ouvem
E o grito é mudo de dor
Hoje o meu filho partiu sem o ter conhecido
O batimento cardíaco parou é só silêncio
Quero parar de chorar mas não consigo
Não há resposta para as nossas perguntas
Será que a culpa é minha?
Culpei-me muitas vezes!

Retrato

Ver o teu retrato
Parece algo caricato
Trago memórias
Sinto inglórias

Deixo os lábios tocar
Mas não sinto o teu salivar
Abraço a moldura
Mas é só uma caricatura

Falta a rua fescura
Aquela, a da loucura
Falta o cheiro agreste
Aquele do belo dia campestre

Limpo a lágrima do esquecimento
Sinto fogo cá dentro
Sinto a dor do tormento
Do teu vazamento

Podias ter dito que partias
Mas isto não são adivinhas
Agora fico pelo retrato
A ver se me trato.

REAL ITA

Digo que eu era feliz sim, e sabia!
Sempre que se aproximava o fim do ano
As bolsas pesadas de tanto pano
Pra mais uma viagem que eu faria!
Sim, eu sabia... e ia com toda a família!
Rever ou conhecer uma outra parte
Distantes, mas 'próximos' já no embarque

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