Amor

QUATRO ESTAÇÕES

Vento varrendo
As folhas de zinco
Do meu corpo: outono...
E rosadamente em neblina delirante
Te cintilo coração... e cinjo de ciano tua nudez aveludada
Despida pela despedida do vento errante de maio
Hoje apenas brisa das três estações pendentes
Que faltaram de saudade nascente
E pelo poente desta história já se foram.

SOLARES

Narcisos amarelados pelo sol alado
Narcisos eternecidos e banhados
Pelo latejante sol ardente e colorido
Narcisos bailantes e amigos da beleza
Leveza floral e inatingível que ao longe
Com e como o sol leonino
Se põe todas as tardes.

POETA

Não sei mais nada escrever
De tanto amor costumo me perder
E na vastidão do pálido horizonte
Febril amarelado e disperso
Sumo no negrito da multidão
Que devora como sempre
O coração perdido do poeta
Anacronicamente em anonimato.

PROFESSORA

Ensinas com maestria
Teus meninos com carinho
E na névoa da Sala de Leitura
Ainda escura pelo sol que dorme nas manhãs
Encanta teus meninos com o jasmim
Do teu perfume e teus amigos de estantes.

Entre redondilhas chegam Vinícius, Clarisses, Eças
Quintanas, Gulares e outros mestres que florescem a ti
E a teus nubentes do apreender neste jardim da vida sapiência
Enobrecendo tua biblioteca como o lugar mais ditoso do universo.

CORAÇÃO

Músculo que não sabe nada
Músculo controlado por massa neurônica
Neurótica massa de sinapses cerebrais.

Músculo que não sabe nada: nada!
Mas por ser coração dos apaixonados
Pesa mais as decisões aladas
Que o cérebro deleta racionalmente
Em qualquer decisão de amor.

ESPANHOLA

Danças com tuas castanholas
Entre babados coloridos
Das luzes desse eterno cabaré: vida.

És linda e danças contrita
Com a sensual peça, castanhola do desejo: ferida.

Olhas para mim na mesma mesa ao lado
Refletindo tua vontade de querer
Meus lábios entre os teus lábios calientes
Linda espanhola do prazer: deusa amoral.

QUANDO O AMOR CHEGAR

Se o amor então chegar
Já não sei o que dizer
Tanto tempo a lhe esperar
Talvez por lhe esquecer...

Quando o amor então chegar
Já não sei o que pensar
Me entregarei talvez
Nova mulher
Para me reencontrar...

Mas talvez o meu amor
De saudade e de verdade
Meu amor guerreiro e verdadeiro
Abrirá para ele o peito das janelas
Da minha dor sem rancor...

Quando o meu amor
Então partir...
Chorarei de solidão
E eternamente gritarei
Não vá embora, amor,não...

VERÃO

Ao chegar e partir
A dor da imensa solidão
Milhões de nãos
Flores fechando em botão.

Reaprendi a amar
De novo volto a escutar
Teus lábios a professar
O recordar que vivi.

Em busca então
Do novo verão
Eterna andorinha sou

Buscando amor
Em nova flor
Que abre em furor
Para sempre
Enquanto o verão
Idilicamente durar.

Agradecimento

 

Agradecimento

 

Como posso alguma vez pensar,

Que te retribui o suficiente?

A divida é a vida em mim inexistente,

Que me ensinaste e te dedicaste a valorizar.

Recai sobre mim a pressão de retribuir sem parar,

O desejo ardente de dar, dar e dar…

 

Tudo o que tenho a oferecer,

Parece pouco, por mais que tente,

A felicidade, a dedicação pelo teu viver,

Serão um digno e eterno presente?

 

Estou disposta a tudo de mim arriscar,

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