Foz
Autor: Maria Miguel Diegues on Wednesday, 16 July 2014Afoguei a dor
Que consumia.
Esmago-a. Um, outro dia;
Essa que solene e discretamente
Me perseguia. Nascente
E foz
De um leito até então encantador
E puro, realmente.
Estagna agora,
Afoguei a dor
Que consumia.
Esmago-a. Um, outro dia;
Essa que solene e discretamente
Me perseguia. Nascente
E foz
De um leito até então encantador
E puro, realmente.
Estagna agora,
Qual, da vida o sentido?
após um curto sonho irreal
alguém por quem a admiração é tal
por quem o sonho é um desejo temido.
nos acorda para a vida real
não com um beijo molhado
como tanto era desejado
mas com uma facada sentida de uma atitude banal.
Com o tique-taque do relógio
Subi da tua ternura os degraus
E nas tuas estrelas encontrei refúgio
Em momentos maus...
Eras Sol e eu Lua? Não sei!
Quando a noite roubou o dia
Em teu corpo eu repousei
Como numa bela moradia!
Acordei ao raiar da aurora
Banhei-me no teu oceano
Vesti-me e fui embora...
Pensando: tudo foi um engano!
Ainda olhei para trás hesitante
Limpando as lágrimas da tristeza
Corri pela areia queimante
Do sonho, inspirada na tua beleza!
SONHOS DE POETA – II
Poema de sofrimento, um grito alado de dor
que ecoa no vazio, entre as margens do lamento.
Na conjuração das asas, para transpor abismos,
segura nas garras o símbolo do sentimento.
Fragrância latente no estigma da alma em flor,
verbo devoluto que se desfolha nos eufemismos
dos pensamentos trajado no negro da desilusão.
Sem alento, as visões mastigadas, jazem caídas,
varridas, para esse abismo profundo de solidão.
Nadando no mais profundo de mim
Encontrei um espaço onde posso sonhar
Onde posso um dia encontrar
Aquilo que eu quero ser
Nesse espaço não há medo de viver
E a vida me parece tão real
Longe de tudo o que é banal
Nadando no mais profundo de mim
Existe cor e balançar
Existe o vento a soprar
E se eu estiver a chorar
Aqui no quarto escuro
Silencio vem me ver
A morte me buscar
Pra longe vou viajar
Brincar com as palavras
Belo modo de se expressar
Mas qual a honra nisso
Se não pra bajular
Não adianta escrever
Sem nada pra dizer
Vai ser só blábláblá
Como acabei de falar
Não sou poeta
Nem escritor
Sou só um garoto
Com o coração melado de amor
Doce como aquela flor
Pena que já morreu, toda cheia de dor
Cravo, onde está a tua cor,
não sei dela, não sei de mim,
roubaram-te a esperança,
a mesma que tiraram de mim...
Estás de luto vestido,
quem te trajou afinal,
foi essa gente desgovernada,
que anda a matar Portugal...
Vejo as tuas lágrimas sobre a terra,
e choro eu contigo também,
com saudades desse tempo,
em que não pretencíamos a ninguém...
Venderam-nos a alma,
deixaram-nos o corpo ao abandono,
somos como cães sem raça,
de quem já ninguem quer ser dono...
FORAM AS GENTES DA MINHA GREI!
Foram as gentes da minha grei
Que tudo me contaram
E eu sempre acreditei
Em tudo quanto falaram
Disseram-me dos sonhos
Sussurraram-me dos amores
Murmuraram-me das dores
Falaram-me do que era risonho
Não falaram da vida negada
Da verdade massacrada
Da mentira escondida
E eu, em vivência invencida
Fui morrendo: de venenos,
Amores e sonhos pequenos!
Ezequiel Francisco