Desilusão

ANGUSTIA

           ANGUSTIA

Ouço teu silencio estrangular meu riso

Vejo tua sombra roubar meu sono

E até a lucidez desse poeta insano

Delirante em febre desejou o abismo

 

Quantas noites precisarei chorar?

Com essas verdades a violentar meus sonhos

Loucos sorrateiros de verdades em punho

Mutilando o encanto do real ninar

 

E quando o grito eu precisei calar

O teu olhar aflito minha alma transpassou

Como um punhal de fogo, ácido e dor

Dilacerando os planos que eu quis ousar

 

Lisboa, portuguesa

5.
LISBOA PORTUGUESA
Lisboa
envelheceste. não há como negar: as palavras decompõem-te
como se fossem vermes a sugarem-te o sangue, o que esperavas?
a ciência não te reserva milagres.
Lisboa
cercada pela noite atlântica, por crianças ruidosas e felizes,
que ainda acreditam em ninfas e caravelas
e em Lusíadas, crianças ruidosamente empenhados no futuro.
Lisboa
cosmopolita do Minho ao Algarve,
das artérias populares e dos roteiros turísticos,
dos carros que adormecem e rodopiam e desacreditam a cidade,

Sonhos Náufragos

Dizem que são os sonhos
Quem nos comanda a vida.
Pois então eu estou morto,
Porque em mim o sonho morreu!

Não há motivação ou ambição,
Apenas tristezas e cansaços.
E até a esperança vai acabando
A cada minha nova golfada de ar!

O meu íntimo grita socorro
Mas os ouvidos alheios tapam-se...
Nunca há quem o queira escutar,
Não há ninguém para se preocupar!

Sutura

No silêncio escuro da noite
Ilumina-me esta breve consciência:
Os outros desistiram de mim,
Eu há muito desisti dos outros!
A solidão em que agora me percebo
É o reflexo do cego isolamento
Que sempre procurei dos outros...
Misantropo, eis o que me tornei!

Átropos, Minha Belladonna

I

Belladonna, minha dona bela!
Que em ti trazes o doce veneno
De uma trágica morte amarela.
(Salvação do meu viver pequeno...)

Tu, bela, que nas sombras moras
E quase sempre o sol evitas,
Deixa-me comer tuas amoras
Embriagar-me com as pepitas!

Anda ter comigo, ó Belladonna
Que o destino uniu-nos sem igual!
Não t'armes comigo em primadonna,
Quero a libertação deste mal!

Dilata-me as pupilas,
Que te eu quero ver melhor!
Amansa-me estes espasmos,
Deste persistir com dor...

Ambiguidades

Vivo a minha parca vida
Em sobressaltos e solavancos
Tenho os sentimentos mancos
E a consciência entorpecida

Pois aquando me alegro
Não tarda o desengano...
Sinto o cerrar do pano
Da minha felicidade.

Mas porque? Se ainda
Nem sinto o peso da idade...
Haverá uma razão
Para tal ambiguidade?

Ébrios

O Mundo gira e gira, e volta a girar
Dá mais uma volta, não pode parar
Nós, os ébrios, aqui nos quedamos
Por sermos tão loucos, às vezes erramos

Se o que nos move, ao chão nos agarra
Prefiro o imóvel àquilo que amarra
Prefiro a desgraça ao som da toada
Ao menos sou livre e não tenho nada

Fixos aqui, o mundo observamos
Entorpecidos no acumular dos anos.
Inertes, apáticos, algures perdidos
Não nos mexemos... Contemplamos!

Pages