Geral

CONJUNTO OU SEPARADO

 

 

 

1.

estou a sós entre muitos:

indivíduo remoto

que não soletra a sorte

 

2.

não refuto a cautela

nem meus temores revelo

frente à ignomínia do caos

 

3.

sou atrelado ao meio

como uma partícula iônica

submissa às leis causais

 

4.

delineio minha esperança

através da observação

destas breves nuances

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Expectativas

Eu sou uma aposta de Deus
em um jogo a ser burlado
em algum casino de cartas sinistras
uma boa destilada para animar
enquanto se jogavam as cartas do baralho

Vencer todo pesadelo
mais fácil mesmo o raio cair
com a mesma intensidade
o ano inteiro
papai bem avisou:
sem trabalho honesto
não há dinheiro certo
que se possa ganhar

Brahma

No sonho eternal de Brahma
dorme as mazelas mundanas,
descansa no grande drama:
o fim das eras profanas.

Observando-se no éter
Ele experimenta e vê,
além da coroa Kether
Vos saúdam, Brahma! Ave! 

Andamento

Andando estive pensando na performance do meu andar. Meu andar transpassa cólera; marcho rente ao objetivo, o que é engraçado. Vejo o meu andar com bom humor: a autoestima na qual desconheço anda a passos largos do que realmente sou. Autoritariamente falo com meu corpo mentindo. Quem vê-me nas ruas enxerga-me categoricamente imperativo. A verdade do meu corpo, ou melhor, da alma, está nos passos inconvictos.
 
 

SOPRO

SOPRO
 
Existe... Tudo existe!
Do nada existe.
Do vazio? De um vácuo?...
O vácuo existe... Existe, sim!
Mas criado, do Alguém, criado!...
 
O antes, o  princípio!...
Antes?... Quando?
Não quando... Nem onde... Nem porquê...
Porque o antes, existe. Mas não o antes de tudo.
Existe?... Sim .. É?... Já antes de tudo...Era!
 
Existe tudo... até o que não se move!

Samurai

Minha haste finca na alma,
Presa na terra íngreme,
Soterrada na cruz que desalma
O sepulcro que se estremece.

Minha katana já não corta,
Inimigo não me teme,
Fui rasgado na faca torta,
E morto na vida tênue.

Sou samurai das mil sombras,
Nas catacumbas sou lembrado.
Não fui de seppuku ou sondas,
Fui de guerreiro a enterrado.

Janelas

Abertas no solilóquio do vento,
Abruptamente batem entre si,
Janelas batem pensamentos,
Por vezes frívolos, chocam-se.

A jovial janela interroga:
— Por que tão rígida és?
A outra responde na hora:
— Porque a chuva agride-me.

Sucinta e clara resposta
Por satisfeita ela cala.
‘’Por que a chuva e não a Lua?’’
Pensa a janela tapada.

Estranhos montes

Sentimento de estranheza pelos montes,
Montes terrestres, montes do coração,
É como nomeio aquilo dito na mente.
Tem coisa que a gente não sabe falar,
Nem escalar como no monte insólito.
Deitarei sobre a cama para enfim escalar.
No vale dos sonhos o inominável descansa,
E no monte desconhecido, repouso. 

Seis emoções

 

As emoções básicas são elementos.
A raiva finda secando o coração,
enrijece e aquece tormentos.

Diferente da tristeza que enxarca
rios de interna decepção,
melancoliza a noite e tarda.

Já a alegria resplandece o agito,
oposta ao medo de se crescer,
inversamente, sente o suspiro,
treme e apequena o ser.

Medo e surpresa são parecidos:
um teme o estrondo, o outro
se choca nos raios fortíssimos.

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