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Ao Cais

Ao Cais

Quase toda tarde eu vou ao cais. Pra nada, pra ver os barcos, contemplar, meditar, limpar a mente do barulho das ruas. Há tantas histórias no cais. Barcos que nunca saíram do cais, barcos que nunca voltaram. Histórias de pescadores, cheiro de peixe, maresia, barcos fantasma que rondam o cais de madrugada.

O cais é um lugar peculiar, frequentado por gente sem identidade, sem rótulo, sem amarras, sem âncoras. Compositores, escritores, músicos, poetas, marinheiros, o engravatado que comprou seu primeiro barco. Madames que morrem de medo de água e não sabem nadar, nem confiam nos coletes salva vidas.

Há uma atmosfera incrível no cais, um misto de assombroso e sereno. O cais é um lugar perfeito pra quem tem uma mente tranquila, mas tem a alma explosiva.
 

Charles Silva - Textos

 

Contra o Vento

Deixa-me correr indomável,
pelas estradas por domar,
por aquele caminho interminável,
que tanto anseia por terminar.

Da mão da sociedade corrupta,
me despego sem ela querer soltar,
da sua linearidade absoluta,
que julga que veio para ficar...

Se veio, deixo-a com um cumprimento,
e sigo o caminho tão inverso,
que só o verso o poderá eternizar.

Deixa-me seguir contra o vento,
caminhar em direcção ao fim do universo,

VIVENCIANDO

VIVENCIANDO.

Estamos em visita por aqui,

Temporariamente passando,

Passando por guerras,

Passando por doenças,

Passando momentos felizes,

Passando momentos tristes,

Vendo pessoas passarem,

O gerúndio passando.

E eu? Onde estarei?

Ou seja, a humanidade,

Faço parte dela,

Como? Não sei!

Ah! Sou metade de amor,

A vida ensina muita coisa,

Mas, cada coisa a seu tempo,

Não me importo com o passando,

Não me importo com o passei,

O que realmente importa,

Diga não ao preconceito

Diga não ao preconceito.

 

Triste ver o preconceito

Que emergiu nesta eleição

Sujeitos insatisfeitos

Com o escore da eleição

Destilam o ódio do peito

Contra o amado povo irmão

Porque perderam o pleito.

 

Vieram a ofender

Brava Nação Nordestina

Sem razão para isso ter.

Lembrem que o povo de Minas

Também não o quis eleger

Três derrotas na surdina

Deram o por conhecer.

 

Povo humilde da Nação

Também sofreu xingamentos

Julgam que a sua opção

Foi em troca de alimentos

Deram péssima vazão

Aos pérfidos sentimentos

Ausentes de qualquer razão.

 

Isto é uma democracia

É preciso respeitar

Aqui impera a alforria

E liberdade ao votar.

Bom não fazer heresia

Para afastar o mal estar

Que esta ação causaria.

 

Os reaças de plantão

Abatidos derrotados

Querem dividir Nação

Ver o país fatiado

Isto é pura ilusão

É um olhar equivocado

Contra a Constituição.

 

Digo não ao desrespeito

Quero a união do país

Quero o povo satisfeito

Vivendo alegre e feliz

Batendo alegre no peito

De ser da mesma raiz.

Diga não ao preconceito.

A REVOLTA DOS PINCÉIS

e em cada pincelada
imbuída de sentimento
 
o pincel revolta-se
 
revolta-se
 
contra a caligrafia perfeita
sobre o papel machê
 
contra a intemporalidade de cada gesto
sobre a folha de papel
 
estremece
 
a tinta desfalece sobre a obra
agora manchada
 
renascimento
 
rebentos verdes peregrinam
entre as rugas

Nas Esquinas do Tempo que Soçobra

Nas esquinas do tempo, que soçobra…

Uma eternidade me cria e me consome
num voo rasante adejando a imensidão
sonho que beija a sombra das palavras
em pensamentos inundados de memórias
nidificadas em fios de mágoas e de glórias
pelo amor que me vai escorrendo pelo chão.

(Rui Tojeira)

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