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ASSIM ASSADO

 

 

 

me vejo assim, por um lado

na pinacoteca em que me exponho:

-telas de líricas texturas

 

me vejo assado, outrossim

no calor maldito acendido em mim:

-como um prato tórrido

 

mas como não sei a razão

muito me constrange e confunde

esta “sem quê” contradição

 

 

 

 

Morada

Eu levo uma vida sem um tema inserido
tenho com homens de poder, pouco a compactuar
não sei em festa de semideuses com sorriso farto deliciar
meu silencio talvez não vá
suportar
espero todo deboche, todo desânimo
passar
levo a vida, mesmo com expectativas pequenas!
na morada nada excelsa que me agrada,
não é os gritos da janela que imagino decifrar
as dores daquela mãe prevejo
que ao seu menino também vão
chegar
Isso eu sei e ninguém veio
Informar
E sempre o mesmo enredo

Entender

Quero a esperteza de quem nunca errou na vida

saber que diacho esconde a caixa de Pandora

por que a penicilina causa tanta dor

e depois o alivio

me faz lembrar da vida

e que me disseram que a dor faz prosperar o amor

mas sei que ando desatento a vida

esqueci da carteira sem notas expressivas

em cada fase da vida já me inspirei num parceiro ou herói

de capa

de lata ou de asas

não herói estelar que era de ferro

pois era lento no passado !

em 2023 tenho que ser andróide

Nômades

Os transeuntes da cidade
residem no nomadismo,
vivem sem nenhuma face,
sem casa, sem comodismo.

Eremitas do urbano
transitam na passagem,
enxergam-me como insano,
morrerei sem dar viagem.

Admiro suas astúcias,
gostaria de explorar,
vivo apenas em minúcias,
e sem um todo pra estar.

Eu resido num hospício
chamado medo incessante,
é um crescente edifício
de um sentimento ignorante.

Semblante odioso

Minha inspiração poética
vem perpetuar a dor,
eternizarei antiética
falando seja o que for.

Seja sobre amar o ódio,
seja odiar a esperança,
da côncava vou ao pódio
curvando-me a má bonança.

Gosto da contradição,
amo o que não faz sentido,
inspiro-me na noção
da vida que tenho tido.

A pobreza será sempre mais rica

No dia que o capital vender sorrisos
o dia de São Nunca veio à tona.
É mais fácil crer no fim do mundo
do que o fim da miséria burguesa.

É mais fácil molharmos os cílios
do que ressecarmos a dor no peito,
É mais fácil cair duro no leito
e não ser nem digno de liberdade.

Da boca ressoa a alma fechada

Nesse estado que me encontro
a poesia não se faz de vítima,
a vítima sou eu e a vida molesta
os versos do sangue depressivo.

Mãos abertas e a boca fechada,
não falo o que quero, mas
escrevo sobre feridas teológicas.
Metafisicamente silencioso…

Sou um sujeito das sombras,
refletindo um mundo problemático.
Deus, se há, é hora de iluminar,
pois sem ti a escuridão é perpétua.

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