Geral

No tempo do poeta França

No tempo do poeta França

Poeta que é poeta arruma a rima, pinta, costura e borda um verso

Quem nem o poeta França que desarrumava a palavra dando um gole de cachaça

Dos poetas itinerantes, poucos versados ainda insistem na agonia da rima

Outros migraram pra boa vista e bebem cerveja num bar da esquina

Antecessores da melancolia dos guetos que davam vida aos fantasmas sem medo

Porém, e além, destilavam-se garrafas de segredos

Naqueles versos sem enredo, somente aos lúgubres era permissivo retê-los

MENSAGEM ELETRÔNICA

MENSAGEM ELETRÔNICA

 

Muitos sonhos acordaram ou deixaram de ser sonhados.

Muito amor sentido teve que ser contido. Como um choro que tem que ser inibido.

Muito do antes feito e vivido teve que ser mantido sem causa e efeito.

Muitas torres erguidas em nome de um futuro desmoronaram como em um terremoto.

Muitas cores vistas acinzentaram-se em metamorfose diante de uma mensagem.

E o amor em mim quase morreu lendo o recado do fim, numa mensagem eletrônica.

Charles Silva

No Palco

No palco

 

É no palco onde sou mais verdadeiro, mais claro, mais exato. No palco todas as paixões viram baladas românticas e toda lágrima vira blues. No palco sentimentos sem nome e sem identificação mostram-se em mim. Onde me conheço e me desconheço simultaneamente, isso é estar no palco.

 

Charles Silva

Era glacial

Era glacial

 

Quem sabe o coração me dirá que essa escuridão um dia vai acabar, ou quem sabe o sol vai nascer e acabar com essas sombras, tenebrosas sombras dessas intermináveis noites frias. Mãos geladas, baixa pulsação, o corpo doe de frio, mas a alma resiste, não há cor, tudo é gelo ou cinza no meu coração que está em plena era glacial.

 

Charles Silva

 

Chagas

Assustei com uma canção feia. A minha esquerda. A minha direita. Para olhar para a frente. Olhei para trás. Vi a cruz das 4 direções do espaço. E parei. Parei diante de um cruzamento supersticioso. Com vermes. Corados. A espernear. Saídos de buracos húmi-dos com pêlos. Pretos. Mortos.

Miguelsalgado, "Escuro"

http://ectoplasma-miguelsalgado.blogspot.pt/

Dilúvios

2.

Sonhei com um cavalo-marinho de boca aberta nas montanhas.

Estava morto mas mexia-se.

O vento empurrava-o e ele rebolava com a boca aberta.

Nas montanhas vi homens e mulheres a dançar.

Um homem solitário escavava no meio dos homens e das mulheres.

E os homens e mulheres continuavam a dançar.

Riam-se da morte.

E havia água enlameada que não parava de subir.

Tive então um desejo: meter o arco-íris na boca do cavalo-marinho e entrega-lo ao homem que escavava.

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