Geral

Dolorosa

Deitada sobre o esquife funerario
E vista á chamma trémula dos cirios,
Tinha a alvura das hostias do sacrario
E a pallidez suavissima dos lirios.

No seu rosto gentil e sorridente
Havia a languidez da pomba mansa.
Parecia dormir serenamente,
Immersa em vagos sonhos de creança.

Annos passaram desde que morreu;
Comtudo vibra intensa no meu ser,
A sensação do beijo que me deu
Poucos momentos antes de morrer.

Impressões d'ella

I

Os labios são dois imans de desejos.
A bocca, então, é calix de venenos
        Com infusão de beijos.
Eu, se o mortal licor provasse ao menos
        Alguma vez sómente,
Envolto já nas sombras da agonia
Ainda um beijo mais lhe pediria
        --Para morrer contente...

II

Elegia Corydrane * Antonio Cabral Filho

Sartre foi guru

das rebeliões juvenis

sem prever o dè já vu.

 

Muito "Idade da razão"

camuflou "Merirruana"

junto com trezoitão

dentro da tiracolo,

 

enquanto o fre-love

dissolvia as barricadas.

Mas quando pintou desbunde,

nem Sartre

colheu razão da idade.

 

 

Voltando

Rasga do céu
A ponta do vestido
Cada quarto
E quadro coberto.

De um lado quebrado
Do outro concertado
O verbo e presente.

A quem está perto
Ou longe da gente.

Não se apoquente
Um dia você acaba voltando
Lendo e tomando café quente
Revisitando tudo que sente.

Mordidas de amor...

 

 

*PHANTASIAS*

Tenho, ás vezes, desejos delirantes
De a todos te roubar, meu lyrio amado!
E levar-te, em um vôo arrebatado,
Aos paizes phantasticos, distantes.

Á India, China ou o Iran, e os meus instantes
Passal-os a teus pés, grave e encrusado,
N'um tapete chinez, avelludado,
Com flores ideaes e extravagantes.

Nossa vida seria, ó pomba minha!
Mais leve do que a aza da andorinha...
E, nas horas calmosas, eu e tu...

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