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*A SUA CAMARA*[2]

No ar calado e bom da camara fechada,
Como um ninho d'amor, casto e silencioso,
Um grande cravo branco ergue o caule cheiroso,
N'uma jarra de jaspe, antiga e cinzelada.

Voam aromas bons no ar tranquillo e molle;
Algumas flores vão morrer nas jarras finas,
--Elle sereno vê, nas rendas das cortinas,
Silencioso morrer na sua gloria o Sol!

Todas morrem ao pé, só elle altivo é bello,
No seu vaso de jaspe, entre as demais existe,
--Como um rei infeliz n'um ultimo castello,
Com seu ar virginal e com seu modo triste!

*IDYLIO D'ALDEIA*

Oh! que harmonia!
      Cadente s'esvoaça pela fresta
      D'um visinho postigo!
    (Hostia d'ouro)

Não sei que ha que me impelle
Para o teu escuro olhar!...
É mais branca a tua pelle,
Do que o linho de fiar!

É tua boca um botão,
E o teu riso a lua nova;--
Quem me dera ter na cova
Os _ais_ do teu coração!

Mal podes saber o gosto
Que tive da vez primeira
Que te avistei, ao sol posto,
Debaixo d'esta amoreira!

Confissão d'uma rapariga feia (INCOMPLETA)

    Ha raparigas n'este mundo,
    Ha raparigas que são feias,
    Mas nenhuma tanto como eu.
    De mim tenho nojo profundo,
    Ciumes do Sol, das luas cheias,
    Que vão tão lindas pelo céo!

    Nos arraiaes, nas romarias,
    Adelaides, Joannas, Marias,
    Todas tem par, mas menos eu.
    Todas bailam, rindo e cantando,
    E eu fico-me a olhal-as scismando
    Na sorte que o Senhor me deu!

*CONFISSÃO A UMA VIOLETA*

Eu confesso-me a ti, doce flor delicada!
Recolhida, modesta, e sol da singeleza,
Das vezes que atravez da verde natureza
Fiz soar com orgulho a bulha do meu nada!

Em vez de amar a vida humilde, chã, callada,
Do sabio estoico e são, exemplo d'inteireza,
Quantas vezes cuspi no Justo e na Belleza;
E cri-me o Fogo e a Luz da géração creada!

Orgulho! orgulho vão! Vaidade e mais vaidade!
Como disse o rei sabio e justo á claridade
Dos astros da Judea e ao gyro dos planetas!...

Elevação Equivoca

 

A terra chama, sem voz que o diga

Suando ao sol, um fôlego alterado

Onde o Homem come, sobre o estrado;

De esforço, tanto, que lhe compense a fadiga…

Qual encontro marco no destino

Se é rua, do meu ser, (pequenino) …

 

Já os caminhos estavam trilhados

Sobre passos desorientados, tementes

Que em seus desejos, medos ardentes

Haviam perdoado, os olhos fechados…

- Pois, que se abram outras qualidades

Quais vençam, sempre, as vontades.

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