A VISÃO DO BAILE
Autor: Bulhão Pato on Friday, 18 January 2013
Nas brisas da tardinha
Pára teu vôo um pouco;
Ouve um poeta, um louco,
--Escuta-me andorinha!
Um pouco deixa os ninhos;
Attende as vãs loucuras,
--Tambem nas sepulturas
Vôam os passarinhos!
Nem sempre o azul ethereo
Quaes flexas vão cortando,
--Tambem riem, voando,
No chão do cemiterio!
Lavam os pés rosados
Nas urnas funeraes;
--Tu, mesmo, nos telhados
Moras das cathedraes!
Com todo o gesso
Ninguém me pode magoar sem a minha permissão.
Por isso vos espera
O dia da vingança!
(Souza Caldas)
Como as urnas das rosas mal fechadas,
Cujos aromas boiam no poente,
Quando passas nossa alma aspira e sente
As sensações das ilhas ignoradas.
E o teu cabello, ó lubrica serpente!
Rescende todo a unguentos e a pomadas,
Como as mumias que habitam no Oriente,
Debaixo das pyramides sagradas.
Mas que te serve e val tanta fadiga,
Ó pó doirado e vão? e o mundo diga:--
Meu leito, meu pomar de sensações!!
Sem ti, vejo o meu futuro
Um horto cheio d'abrolhos!--
Ah não me deixem teus olhos
Por este caminho escuro!
No inverno, as candidas aves
Abandonam os pombaes,
Meu bem, teus olhos suaves
Não me desterrem jámais!
Quando á tarde o ceu flameja,
Junto de ti encostado,
Que vezes, não tenho inveja
Da agulha do teu bordado!
Eu quizera a toda a hora
Cantar-te, ó sol os meus dias!
Como os sonetos que á Aurora
Enviam as cotovias.
Escrito em 6-7-1914.
Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das cousas
O natural é o agradável só por ser natural.