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_NÍRVANA_

 

Para além do Universo luminoso,
Cheio de fórmas, de rumor, de lida,
De forças, de desejos e de vida,
Abre-se como um vácuo tenebroso.

A onda desse mar tumultuoso
Vem ali expirar, esmaecida...
Numa immobilidade indefinida
Termina ali o ser, inerte, ocioso...

E quando o pensamento, assim absorto,
Emerge a custo desse mundo morto
E torna a olhar as coisas naturaes,

Á bella luz da vida, ampla, infinita,
Só vê com tédio, em tudo quanto fita,
A illusão e o vasio universaes.

Adeus a Constança

    Vae o teu Pae andar ao sol de verão,
    E mais á chuva e ao vento; e só depois
    Poderá ter a colheita d'esse pão
    Que semeou cantando ao pé dos bois.

    Feliz que eu fui em te encontrar na vida,
    Minha dôce Constança desejada!
    Antes de vêr-te a ti não via nada,
    Nem para mim a lua era nascida.

    Tu vaes partir em breve com teu Pae
    Por esse mar que tão piedozo está.
    Não sêde amargas, ondas, mas chorae!

*Á POMBA QUE VOOU*

Foste-te, ó luz das solidões amenas!
Ó grandes olhos tristes, ideaes!
--Partiste, casta pomba d'alvas pennas,
Em procura dos lucidos pombaes!

..........................................

Tu estás hoje entre as hervas e as poeiras,
Ou cheia de celestes claridades!
Ó doce irmã das rolas companheiras!
Por ti ouço chorar as larangeiras!
E de luto vestirem as saudades!

Noite

 

Filete de carne entre os dentes.
Pijama molhado de vinho.
Cigarro no toco.
Noite de chuva.
Sem nada de novo.
O vinho desce seco pela garganta.
Aliciando o cigarro.
Os dentes agonizam.
Pedem paz e lábios.
Lábios alheios.
Usados.
Ressecados.

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