Quando tornar a vir a Primavera
Autor: Alberto Caeiro on Saturday, 19 January 2013
Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
A MARTINHO DE BREDERODE
Quando cheguei aqui, dizia baixo o povo
Pelas ruas, vendo-me passar:
--Vem tão doentinho, olhae! e é ainda tão novo...
E assim sósinho, sem ninguem para o tratar!
(Que boa a Suissa! que bom é este povo!)
Raparigas de luar, pastoras d'estes Andes,
Diziam entre si: Quem será este senhor?
Todo de preto, tão pallido, olhos tão grandes!
E rezavam por mim, baixinho, com amor.
(Ó pastoras tão meigas d'estes Andes!)
Calma silentia lunae.
(Virgilio)
Recordas-te essa noute, ó bella desgostosa!
Que nós andámos sós e tristes divagando,
Entre as folhas e o vento, o vento leve e brando.
Aos lividos clarões da lua silenciosa?!...
Callados e atravez da grande sombra escura
Dos cerrados pinhaes e augustos castanheiros,
Como as almas leaes e antigos companheiros,
Unidos a gemer a mesma desventura!
No tempo em que elle, nas lendas,
Era amante e cortezão,
Jogava, e tinha contendas,
Cantava assim em Milão:
..........................................
..........................................
..........................................
Ó flores meigas, ó Bellas!
Para prender os toucados,
Eu dar-vos-hia as estrellas:
--Os alfinetes dourados!
Só pelo amor quebro lanças!--
A Rainha de Navarra
Enleou um dia as tranças
No braço d'esta guitarra!
Quando no meu o teu olhar se esquece,
A minha alma, mulher! é como um urso
Que dança pelas feiras, e obdece
Ao magro saltimbanco e ao seu discurso.
E os meus velhos desejos violentos
Soluçam--hystriões esfomeados!--
Como os gatos noturnos, friorentos,
Que miam lamentosos nos telhados.
Nas brisas da tardinha
Pára teu vôo um pouco;
Ouve um poeta, um louco,
--Escuta-me andorinha!
Um pouco deixa os ninhos;
Attende as vãs loucuras,
--Tambem nas sepulturas
Vôam os passarinhos!
Nem sempre o azul ethereo
Quaes flexas vão cortando,
--Tambem riem, voando,
No chão do cemiterio!
Lavam os pés rosados
Nas urnas funeraes;
--Tu, mesmo, nos telhados
Moras das cathedraes!
Com todo o gesso