Geral

Adeus a Constança

    Vae o teu Pae andar ao sol de verão,
    E mais á chuva e ao vento; e só depois
    Poderá ter a colheita d'esse pão
    Que semeou cantando ao pé dos bois.

    Feliz que eu fui em te encontrar na vida,
    Minha dôce Constança desejada!
    Antes de vêr-te a ti não via nada,
    Nem para mim a lua era nascida.

    Tu vaes partir em breve com teu Pae
    Por esse mar que tão piedozo está.
    Não sêde amargas, ondas, mas chorae!

*Á POMBA QUE VOOU*

Foste-te, ó luz das solidões amenas!
Ó grandes olhos tristes, ideaes!
--Partiste, casta pomba d'alvas pennas,
Em procura dos lucidos pombaes!

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Tu estás hoje entre as hervas e as poeiras,
Ou cheia de celestes claridades!
Ó doce irmã das rolas companheiras!
Por ti ouço chorar as larangeiras!
E de luto vestirem as saudades!

Noite

 

Filete de carne entre os dentes.
Pijama molhado de vinho.
Cigarro no toco.
Noite de chuva.
Sem nada de novo.
O vinho desce seco pela garganta.
Aliciando o cigarro.
Os dentes agonizam.
Pedem paz e lábios.
Lábios alheios.
Usados.
Ressecados.

O Senhor, cuja Lei é sempre justa

    O Senhor, cuja Lei é sempre justa,
    Deu-me uma infortunada mocidade,
    Talvez para eu saber (o que é verdade)
    Quanto é bom ser feliz, mas quanto custa!

    Feliz de quem no mundo sem piedade,
    Encontrou alma que lhe entenda a sua,
    Que o mesmo é que ter na mão a Lua
    Tão longe n'essa triste Eternidade!

    Os meus dias passavam tristemente
    Quando encontrei o teu olhar ridente:
    Foi a bençam de luz da Mãe de Deus!

*A UMA VOZ CELESTE*

A. C. de Carvalho

Na noute que passou
O Christo no Calvario,
Um rouxinol cantou
Sobre a Cruz, solitario.

Os trigueiros soldados,
E os lyrios de Salem
Perguntavam pasmados
--Que voz canta tão bem?

Como sentindo os males
Das suas proprias penas
Vergavam-se nos calix
Chorando as açucenas.

Choravam os caminhos,
Os dados, os cilicios,
A grinalda d'espinhos,
E a esponja dos supplicios.

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