Geral

Riquinha

    Soffrer callada as suas proprias dôres
    E chorar como suas as dos mais,
    Tal a Rainha do seu nome, em flôres
    Transforma pedras e em sorrisos ais.

    A toda a parte leva o sol e amores,
    É a _Saude dos Enfermos_ nos Cazaes;
    E, no mar-alto, os velhos pescadores
    Invocam-n'a entre espuma e temporaes!

    Quem será ella, tão piedoza e dôce!
    Com uns taes olhos que não tinha visto
    Será a Virgem? Oxalá que fosse!

O poeta pede ao seu amor que lhe escreva

 

Amor de minhas entranhas, morte viva, 
em vão espero tua palavra escrita 
e penso, com a flor que se murcha, 
que se vivo sem mim quero perder-te. 
O ar é imortal. A pedra inerte 
nem conhece a sombra nem a evita. 
Coração interior não necessita 
o mel gelado que a lua verte. 

PAIXÃO

Suppõe que d'uma praia, rocha ou monte,
    Com essa vista embaciada e turva
    Que dá aos olhos entranhavel dôr;
    Tinhas podido vêr transpôr a curva,
    Pouco a pouco, do liquido horisonte,
    A saudosa barca, que levasse
    Aquelle, a quem primeiro uniste a face
        E o teu primeiro amor!

*A UM CORPO PERFEITO*

Nenhum corpo mais lacteo e sem defeito
Mais roseo, esculptural e femenino,
Pode igualar-se ao seu, branco e divino
Immovel, nù, sobre o comprido leito!--

Nada te eguala! O ferro do assassino
Podia, hoje, matal-a, que o meu peito
Seria o esquife embalsamado e fino
D'aquelle corpo sem rival, perfeito.

Por isso é muito altiva e apetecida;--
E o goso sensual de a vêr vencida
Ha de ser forte, extranho e singular...

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