Geral

CONTO

 

Um Príncipe se aborrecia por só se dedicar a perfeição de generosidades

vulgares. Ele previa estonteantes revoluções do amor, e desconfiava que suas

mulheres pudessem bem mais que uma complacência enfeitada de céu e luxo.

Á VISTA D'UM RETRATO

    Amo-te, flôr! Se te amo, Deus que o sabe
    Que o diga a teus irmãos, que o céo povoam,
    E ebrios de gloria canticos entoam
    A quem no mar, na terra e céos não cabe.

    Se te amo, flôr! que o diga o mar--que expelle
    Quanto é dominio, beija humilde a praia:
    Se mal que a lua lá das ondas sáia
    Nas rochas me não vê gemer com elle.

*ULTIMA PHASE DA VIDA DE D. JUAN*

(AMOR DE COSINHA)

     Afinal D. Juan vinha, hoje, a morrer d'uma indigestão.
     (Palavras d'um grande realista)

Cançado de vãos fogos de Bengalla,
Como Pansa odeei o Pensamento,
E abandonei os ideaes de salla
--Pelo amor da cosinha succulento!

E os meus fortes desejos sensuaes,
--Desejos que hão de dar na morte escura!--
Soluçam só--ó deuses immortaes!
Só pela ama d'um florído cura.

Uma gravura fantástica

Um vulto singular, um fantasma faceto,
Ostenta na cabeça horrivel de esqueleto
Um diadema de lata, - unico enfeite a orná-lo
Sem espora ou ping'lim, monta um pobre cavalo,
Um espectro tambem, rocinante esquelético,
Em baba a desfazer-se como um epitético,
Atravessando o espaço, os dis lá vão levados,
O Infinito a sulcar, como dragões alados.

Pages