A HELENA
Autor: Bulhão Pato on Tuesday, 1 January 2013
Eu vi a luz em um paiz perdido. A minha alma é languida e inerme. Oh! Quem podesse deslisar sem ruido! No chão sumir-se, como faz um verme...
Em St. Maurice (aqui perto) ha um convento
De Franciscanos. Fui-me lá ha dias.
Quando eu entrei, tocava a Avè-Marias.
Iam ceiar. Fóra mugia o vento.
Um pallido Christo, ao fundo da sala,
Espalha em redor seu alvo clarão;
E, quando se reflecte a Cruz pelo chão,
Os frades ingenuos não ousam pisal-a.
«Meu irmão...» disseram, ao verem-me á porta.
Vontade, Senhor, tive eu de chorar!
Tão só me sentia, pela noite morta...
Traduzir, traduzir-se;
_A Cassianno Neves_
Bocca talhada em milagrosas linhas,
A luz augmenta com o seu falar.
Esta manhã um bando de andorinhas
Ia-se embora, atravessava o mar.
Chegou-lhes ás alturas, pela aragem,
Um adeus suave que ella lhes dissera,
--E suspenderam todas a viagem,
Julgando que voltára a primavera...
Como a agua em funda gruta
Gotta a gotta filtra e cái,
Sem saber quem isso escuta
O que lá por dentro vai:
Como ao longe incerta e baça
N'uma igreja alveja a luz,
Que da lampada esvoaça
E a vidraça reproduz:
Mal te vi, moira encantada!
Mas á luz dos olhos teus
Murcha a lampada sagrada
D'um altar do nosso Deus.
Mal te ouvi, mas as suaves
Melodias, que te ouvi,
São mais dôces que as das aves
Da aldêa onde nasci!
A Batalha Reis
FAUSTO E MEPHISTOPHELES
FAUSTO
Nas noutes brancas de lua
É que se abrem as janellas!
Vem vêr meus olhos escuros
A sementeira d'estrellas!
Quem me dera a mim que fosse
Para te poder fallar,
O teu peito uma janella
E o meu amor o luar!
Uma voz (_cantando dentro_)
As estrellas mais brilhantes,
Entre as outras as primeiras,
São os prantos de Maria
E o suor das Oliveiras.
MEPHISTOPHELES (_cantando n'uma guitarra_)
Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.