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Árvores do Alentejo

Ao Prof Guido Battelli

Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Sua alteza real o pequenino infante

Sua alteza real o pequenino infante
Matou, d'um tiro só, dois gamos na carreira:
Um hymno mais ao céo, pois era a vez primeira
Que sua alteza vinha á diversão galante!

Ó vergontea gentil! quando um tropel distante
De subito acordar os echos da clareira
E uma preza cansada, em rolos de poeira,
Varada, a vossos pés, caír agonisante,

Acercai-vos então da pobre fera exangue
Que estrebuxa de dôr n'um mar de lama e sangue
Sem que um grito de dó nos corações acorde!

Raios não peço ao Criador do mundo

Raios não peço ao Criador do mundo,
Tormentas não suplico ao rei dos mares,
Vulcões à terra, furacões aos ares,
Negros monstros ao báratro profundo:

Não rogo ao deus do Amor, que furibundo
Te arremesse do pé de seus altares;
Ou que a peste mortal voe a teus lares,
E murche o teu semblante rubicundo:

Nada imploroem teu dano, ainda que os laços
Urdidos pela fé, com vil mudança
Fizeste, ingrata Nise, em mil pedaços:

*A PRIMAVERA*

De Julio Forni

Hãode dizer-me--Insensatos!
Que tenha novos amores,
Que brilham já outros soes,
De novo se abrem as flores
E é o tempo dos rouxinoes.

E dirão inda depois:
Que a primavera começa,
E andam aromas no ar,
Que nos sobem á cabeça,
Como um vinho singular.

E eu dir-lhes-hei: Que m'importa!
Faz frio, fechem-me a porta!
--Ella, o meu bem, meu abrigo,
Levou, desde que está morta,
A Primavera comsigo!

Meu casto lirio

    Meu casto lirio,
    Terno delirio,
    Gloria e martyrio
    Do meu amor!
    Amo-te como
    A haste o gomo,
    O labio o pomo
    E o olho a flôr.

    Se ao meu ouvido
    Sôa um rugido
    Do teu vestido,
    Que ouço roçar;
    Que som me vibra
    Não sei que fibra
    Que me equilibra
    A mim no ar!

RESPOSTA

RESPOSTA

A A. DO QUENTAL

    Tal é a confiança que te inspira
    Estes reis, estes povos, esta gente,
    Que é para o céo que appella e se retira
    Tua alma já de triste e descontente.

    Mas Deus então seria ou impotente
    Ou seria um Deus barbaro: mentira!
    Não póde suspirar eternamente
    Quem ha já tantos seculos suspira.

    Vai ganhando terreno a luz brilhante,
    Luz toda liberdade e toda amor
    Que ha-de salvar o mundo agonisante.

*Poentes de França*

--Ó sol! ó sol! ó sol! poente de vinho velho!
Enche meu copo de S. Graal (deu-m'o a ballada...)
Ó sol de Normandia! Occidente vermelho,
Tal o circo andaluz depois d'uma toirada!

    --Vos sois extrangeiros, vos sois extrangeiros,
    Ó poentes de França! não vos amo, não!

--Ó sol, cautella! já a noite se avizinha
O Padre-Oceano vae, em breve, commungar:
Ó hostia vesperal de vermelha farinha,
Que o bom Moleiro móe, no seu moinho do Ar!

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