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Raios não peço ao Criador do mundo

Raios não peço ao Criador do mundo,
Tormentas não suplico ao rei dos mares,
Vulcões à terra, furacões aos ares,
Negros monstros ao báratro profundo:

Não rogo ao deus do Amor, que furibundo
Te arremesse do pé de seus altares;
Ou que a peste mortal voe a teus lares,
E murche o teu semblante rubicundo:

Nada imploroem teu dano, ainda que os laços
Urdidos pela fé, com vil mudança
Fizeste, ingrata Nise, em mil pedaços:

*A PRIMAVERA*

De Julio Forni

Hãode dizer-me--Insensatos!
Que tenha novos amores,
Que brilham já outros soes,
De novo se abrem as flores
E é o tempo dos rouxinoes.

E dirão inda depois:
Que a primavera começa,
E andam aromas no ar,
Que nos sobem á cabeça,
Como um vinho singular.

E eu dir-lhes-hei: Que m'importa!
Faz frio, fechem-me a porta!
--Ella, o meu bem, meu abrigo,
Levou, desde que está morta,
A Primavera comsigo!

Meu casto lirio

    Meu casto lirio,
    Terno delirio,
    Gloria e martyrio
    Do meu amor!
    Amo-te como
    A haste o gomo,
    O labio o pomo
    E o olho a flôr.

    Se ao meu ouvido
    Sôa um rugido
    Do teu vestido,
    Que ouço roçar;
    Que som me vibra
    Não sei que fibra
    Que me equilibra
    A mim no ar!

RESPOSTA

RESPOSTA

A A. DO QUENTAL

    Tal é a confiança que te inspira
    Estes reis, estes povos, esta gente,
    Que é para o céo que appella e se retira
    Tua alma já de triste e descontente.

    Mas Deus então seria ou impotente
    Ou seria um Deus barbaro: mentira!
    Não póde suspirar eternamente
    Quem ha já tantos seculos suspira.

    Vai ganhando terreno a luz brilhante,
    Luz toda liberdade e toda amor
    Que ha-de salvar o mundo agonisante.

*Poentes de França*

--Ó sol! ó sol! ó sol! poente de vinho velho!
Enche meu copo de S. Graal (deu-m'o a ballada...)
Ó sol de Normandia! Occidente vermelho,
Tal o circo andaluz depois d'uma toirada!

    --Vos sois extrangeiros, vos sois extrangeiros,
    Ó poentes de França! não vos amo, não!

--Ó sol, cautella! já a noite se avizinha
O Padre-Oceano vae, em breve, commungar:
Ó hostia vesperal de vermelha farinha,
Que o bom Moleiro móe, no seu moinho do Ar!

*Bric-à-brac*

      O dono miseravel da locanda
      O _brocanteur_ terrivel, sanguinario
      Agonisa n'um catre solitario
      D'uma alcova minuscula, execranda.

      Affinca as mãos convulso n'um rosario,
      Ao ceu a vida, supplice, demanda,
      N'uma imagem de Christo veneranda
      Crava os olhos de abutre, de corsario.

      Pois apesar das lagrimas-remorsos
      Das victimas do seu medonho trama
      Ruins phantasmas de lividos escorços.

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