A NOIVA DO SEPULCHRO. (_Imitado do inglez_).
Autor: Alexandre Herculano on Tuesday, 11 December 2012I.
I.
Escrito em 21-5-1917.
Leram-me hoje S. Francisco de Assis.
Leram-me e pasmei.
Ditado pelo poeta no dia da sua morte (1920?).
É talvez o último dia da minha vida.
De Julio Forni
Hãode dizer-me--Insensatos!
Que tenha novos amores,
Que brilham já outros soes,
De novo se abrem as flores
E é o tempo dos rouxinoes.
E dirão inda depois:
Que a primavera começa,
E andam aromas no ar,
Que nos sobem á cabeça,
Como um vinho singular.
E eu dir-lhes-hei: Que m'importa!
Faz frio, fechem-me a porta!
--Ella, o meu bem, meu abrigo,
Levou, desde que está morta,
A Primavera comsigo!
Meu casto lirio,
Terno delirio,
Gloria e martyrio
Do meu amor!
Amo-te como
A haste o gomo,
O labio o pomo
E o olho a flôr.
Se ao meu ouvido
Sôa um rugido
Do teu vestido,
Que ouço roçar;
Que som me vibra
Não sei que fibra
Que me equilibra
A mim no ar!
RESPOSTA
A A. DO QUENTAL
Tal é a confiança que te inspira
Estes reis, estes povos, esta gente,
Que é para o céo que appella e se retira
Tua alma já de triste e descontente.
Mas Deus então seria ou impotente
Ou seria um Deus barbaro: mentira!
Não póde suspirar eternamente
Quem ha já tantos seculos suspira.
Vai ganhando terreno a luz brilhante,
Luz toda liberdade e toda amor
Que ha-de salvar o mundo agonisante.
--Ó sol! ó sol! ó sol! poente de vinho velho!
Enche meu copo de S. Graal (deu-m'o a ballada...)
Ó sol de Normandia! Occidente vermelho,
Tal o circo andaluz depois d'uma toirada!
--Vos sois extrangeiros, vos sois extrangeiros,
Ó poentes de França! não vos amo, não!
--Ó sol, cautella! já a noite se avizinha
O Padre-Oceano vae, em breve, commungar:
Ó hostia vesperal de vermelha farinha,
Que o bom Moleiro móe, no seu moinho do Ar!
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
O dono miseravel da locanda
O _brocanteur_ terrivel, sanguinario
Agonisa n'um catre solitario
D'uma alcova minuscula, execranda.
Affinca as mãos convulso n'um rosario,
Ao ceu a vida, supplice, demanda,
N'uma imagem de Christo veneranda
Crava os olhos de abutre, de corsario.
Pois apesar das lagrimas-remorsos
Das victimas do seu medonho trama
Ruins phantasmas de lividos escorços.