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Razão de ser de uma vida

A chuva cai, uma trompete ecoa nas paredes num swing morno e macio que apetece ouvir em loop. Nada mais interessa nesse momento do que a música que provoca uma evasão para momentos de outros tempos, de tempos imemoriais, onde tudo aconteceu. Uma taça de vinho, o calor de uma lareira, a lenha a crepitar e o teu olhar sedutoramente penetrante. Nada mais importa do que isso. Encontrar o teu perfil esculpido nas rochas prateadas é somente o maior dos prazeres que está contido na razão de ser de uma vida.

Momentos de prazer

Nos momentos de prazer sinto-me, como uma criança que acaba de nascer, aproveito o tempo para me tentar reescrever nas horas vagas do dia. Não lamento ser quem não sou, não aviso ninguém daquilo que sou, apenas floresço com a luz ténue do dia. Num clique a vida faz-se, hoje, amanhã, ontem, agora. O agora é sempre, nos momentos de vida breve. Mantenho uma relação saudável comigo mesmo, tenho saudades daquilo que sou, nos momentos em que não sou o que quero.

No sorriso

No sorriso, a leveza eleva-se, é o espírito que tenta emanar e dar luz ao mundo.

É na elegância que o belo se manifesta, na cor que aquece a alma. Um único movimento cria a ilusão do prazer de viver. Ser livre, é essa a manifestação do ser, não do ter, ser sempre feliz, sorrindo.  

Há uma inocência guardada

no teu respirar

no coração pendurada

marcada com vagar

que se esconde negra e só

e com o passar dos anos vira pó.

 

Há uma crença

Infundada no material

Que nos rouba a presença

Festeja com o banal

E cresce só

Para que um dia vires pó.

 

Há saudade que não fica

De quem nos abandonou

Da raiva que se estica

Pela dor que nos marcou

E caminhas só

E o amor virou pó.

 

Há amor sozinho em ti

Escapando do amor

Escapando do amor

 

O amor me pegou, mas me pegou de jeito que eu não pude escapar dele. Eu não queria escapar dele, mas ele acabou escapando de mim, ou eu acabei escapando dele.

Como quem escapa sorrateiramente pela janela da cozinha no meio da madrugada, eu acabei escapando do amor, ou ele acabou escapando de mim.

Patrícia quebrou a perna

Gente, Patrícia quebrou a perna.
 

E foi fratura exposta. O que é que eu faço?
Eu não entendo nada de ferimentos, nem de enfermagem.
Estou sozinho em casa com ela. E agora?

Não sei se chamo o SAMU, IBAMA, Bombeiros, sei lá. Não sei os números para chamar nenhum desses aí.
Enquanto isso, Patrícia está desesperada ali gritando e gemendo. Coitada.

Depois da Breve Chuva Que Não Vem

Depois da breve chuva 
que não vem
sobe um cheiro de poeira
os clamores do sertanejo
e o lisonjeio a Deus, do pedreiro
que rebocava um muro

tudo na vida é assim
se repete
uns esperando que algo passe
outros, que algo chegue

e como nada fica pelo meio do caminho
apenas nos convém
o clamor ou o lisonjeio,
pois o que se quis ou foi execrado
também é levado 
mesmo se não satisfeito o desejo.

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