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O SOLDADO.

I.

Veia tranquilla e pura
Do meu paterno rio,
Dos campos, que elle réga,
Mansi­ssimo armentio.

Rocio matutino,
Prados tão deleitosos,
Valles, que assombram selvas
De sinceiraes frondosos,

Terra da minha infancia,
Tecto de meus maiores,
Meu breve jardimzinho,
Minhas pendidas flores,

Harmonioso e sancto
Sino do presbyterio,
Cruzeiro venerando
Do humilde cemiterio.

A TEMPESTADE.

Sibilla o vento:--os torreões de nuvens
      Pésam nos densos ares:
Ruge ao largo a procella, e encurva as ondas
      Pela extensão dos mares:
A immensa vaga ao longe vem correndo,
      Em seu terror envolta;
E, d'entre as sombras, rapidas centelhas
      A tempestade solta.
Do sol no occaso um raio derradeiro,
      Que, apenas fulge, morre,
Escapa á nuvem, que, apressada e espessa,
      Para apaga-lo corre.
Tal nos affaga em sonhos a esperança,
      Ao despontar do dia,

16

Esta inconstancia de mim próprio em vibração
É que me ha de transpôr às zonas intermédias,
E seguirei entre cristais de inquietação,
A retinir, a ondular... Soltas as rédeas,
Meus sonhos, leões de fogo e pasmo domados a tirar
A tôrre d'ouro que era o carro da minh'Alma,
Transviarão pelo deserto, muribundos de Luar -
E eu só me lembrarei num baloiçar de palma...
Nos oásis, depois, hão de se abismar gumes,
A atmosfera ha de ser outra, noutros planos:
As rãs hão de coaxar-me em roucos tons humanos

*LYCANTHROPIA*

L'auteur á remarqué que que la mort de ceux qui nous sont chers, et
     géneralment la contemplation de la mort, affecte biem plus notre
     âme pendaut l'été que dans les autres saisons de l'anineé.
     (Paradis artificiels)

Nuvens da tarde, azul fundo e sereno!
E astros inviolados, larangeiras!
Para mim não valeis seu riso ameno,
E aquellas _lindas_, languidas olheiras!

Apontamento

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela.

Paz!

E a Vida foi, e é assim, e não melhora.
Esforço inutil, crê! Tudo é illuzão...
Quantos não scismam n'isso mesmo a esta hora
Com uma taça, ou um punhal na mão!

Mas a Arte, o Lar, um filho, Antonio? Embora!
Chymeras, sonhos, bolas de sabão.
E a tortura do _além_ e quem lá mora!
Isso é, talvez, minha unica afflicção...

Toda a dor pode suspportar-se, toda!
Mesmo a da noiva morta em plena boda,
Que por mortalha leva... essa que traz...

Deixa que ao romper d'alva o cravo abrindo

Deixa que ao romper d'alva o cravo abrindo,
            Á rosa envie o aroma;
    E lá quando alta noite a lua assoma,
            O rouxinol carpindo!

    Que pela face a lagrima resvale
            De quem no exilio geme;
    E quando a propria sombra o homem teme,
            Que a mãi seu filho embale.

    Deixa que ao espaço immenso os olhos lance
            O sol antes que expire;
    Que pelo norte a bussola suspire
            E nelle só descance.

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